ATA DA DÉCIMA
TERCEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA
PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 18.03.1994.
Aos dezoito dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Terceira Sessão Ordinária da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Primeira Legislatura. Às nove horas foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Clênia Maranhão, Clóvis Ilgenfritz, Décio Schauren, Divo do Canto, Eliseu Santos, Fernando Zachia, Geraldo de Matos Filho, Giovani Gregol, Guilherme Barbosa, Helena Bonumá, Henrique Fontana, Isaac Ainhorn, Jair Soares, João Dib, João Motta, João Verle, Jocelin Azambuja, José Gomes, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Luiz Negrinho, Maria do Rosário, Mário Fraga, Milton Zuanazzi, Nereu D’Ávila, Pedro Américo Leal, Pedro Ruas, Wilton Araújo, Letícia Arruda e João Bosco. A seguir, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fosse distribuída em avulsos cópia da Ata da Décima Segunda Sessão Ordinária, que foi aprovada. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 136/94, do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre, 01/94, da União de Vilas da Região Leste de Porto Alegre, 34/94, da Coordenação Geral da Comissão Municipal para o Programa Guaíba Vive, 91/94, do Engenheiro Dieter Wartchow, Diretor-Geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos, 3798/94, da Câmara Municipal de São José dos Campos-SP, s/nº, do Deputado Nelson Jobim, e s/nº, da União dos Vereadores do Rio Grande do Sul. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador Antonio Hohlfeldt, 01 Pedido de Providências e 02 Emendas ao Projeto de Lei do Executivo nº 13/94 (Processo nº 522/94); pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz, 01 Pedido de Providências; pelo Vereador Eliseu Santos, 02 Pedidos de Providências; pelo Vereador Luiz Negrinho, 02 Pedidos de Providências e 01 Indicação nº 10/94 (Processo nº 640/94). Ainda, foram deferidos pelo Senhor Presidente os Requerimentos de desarquivamento do Projeto de Resolução nº 39/93 e Projeto de Lei do Legislativo nº 74/93, por solicitação do Vereador Gerson Almeida. Após, nos termos do artigo 100, da Lei Orgânica Municipal, Tribuna Popular, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Newton Brücker, Membro da Comissão de Meio Ambiente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-RS, SBPC, para explanar sobre a necessidade de criação de um Fórum de Debates em torno da região do Lami. O Senhor Newton Brücker disse que o SBPC tem se preocupado com a proteção ambiental da região do Lami, destacando que nas últimas administrações municipais foram destinados recursos de vulto para atender a essa área em termos de saneamento básico, o que trouxe consigo a exploração imobiliária com a proliferação de loteamentos clandestinos. Defendeu a criação de um fórum de debates com os mais diversos segmentos, a fim de que surja uma proposta global que viabilize uma vigília ambiental permanente para a área. Também, comentou outras propostas que vem sendo encaminhadas pelo SBPC, para a região do Lami, com o gerenciamento das micro-bacias dos arroios, o controle náutico de cabotagem, o controle do extrativismo dos morros e a criação de um Centro de Estudos Biológicos Costeiros. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores para, nos termos do artigo 206, se manifestarem acerca do assunto abordado na Tribuna Popular. O Vereador Guilherme Barbosa destacou ter, quando Diretor do DMAE, executado obras de saneamento básico na região do Lami, conhecendo a importância da manutenção das características naturais daquela área. Externou sua satisfação com o pronunciamento feito pelo Senhor Newton Brücker, colocando sua Bancada à disposição, para levar ao Executivo Municipal as propostas aqui apresentadas por Sua Senhoria. O Vereador Jocelin Azambuja lembrou férias passadas, quando criança, na região do Lami, declarando ser justa a preocupação do SBPC na defesa do meio ambiente daquela área. Ainda, classificou como inadmissível que, face a inexistência de princípios fundamentais de educação ambiental, seja destruída uma obra que a natureza levou tanto tempo para construir. O Vereador Lauro Hagemann ressaltando conhecer a região do Lami desde o tempo em que ali não havia energia elétrica, analisou a importância do respeito do homem pela natureza da qual também é parte integrante. Defendeu a necessidade de usufruto do meio ambiente através de uma forma responsável que não resulte em sua destruição. o Vereador Mário Fraga, declarando também ter passado, quando criança, férias na região do Lami, as quais resultaram em momentos de agradável lembrança, atentou para a necessidade de preservação dessa área. Salientou que sua Bancada coloca-se à disposição para o que for preciso a fim de viabilizar tal preservação. Após, o Senhor Presidente registrou a presença, na Casa, da Professora Brazilicia Catharina de Souza, também, membro do SBPC, agradecendo suas presenças e afirmando que o clamor dessa Comissão encontrou eco entre os membros deste Legislativo. Em PAUTA, Discussão Preliminar, estiveram: em 1ª Sessão, os Projetos de Lei Complementar do Legislativo nºs 01 e 02/94 e os Projetos de Lei do Executivo nºs 16 e 17/94; em 2ª Sessão, os Projetos de Lei do Legislativo nºs 234/91, 158/93 e 09/94, o Projeto de Lei do Executivo nº 12/94, o Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 43/93 e o Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 06/94; em 3ª Sessão, os Projetos de Resolução nºs 01 e 02/94. A seguir, constatada a existência de “quorum”, iniciou-se a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação Nominal, foi rejeitado o Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 28/90, em sua parte vetada, considerando-se aceito o Veto Parcial a ele aposto por treze Votos SIM contra dezesseis Votos NÃO, tendo votado Sim os Vereadores Airto Ferronato, Clênia Maranhão, Geraldo de Matos Filho, Lauro Hagemann, Maria do Rosário, Mário Fraga, Milton Zuanazzi, Nereu D’Ávila, Pedro Ruas, Wilton Araújo, Letícia Arruda, João Bosco e Fernando Zachia, e votado Não os Vereadores Antonio Hohlfeldt, Clovis Ilgenfritz, Décio Schauren, Eliseu Santos, Giovani Gregol, Guilherme Barbosa, Helena Bonumá, Henrique Fontana, Jair Soares, João Dib, João Motta, João Verle, Jocelin Azambuja, Luiz Negrinho, Pedro Américo Leal e Divo do Canto. O Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 28/90 foi discutido pelos Vereadores Lauro Hagemann, Clovis Ilgenfritz, João Motta, Maria do Rosário, Milton Zuanazzi, Clênia Maranhão e João Dib, e encaminhado a votação pelos Vereadores Lauro Hagemann, Antonio Hohlfeldt, Pedro Américo Leal, Jocelin Azambuja, Nereu D’Ávila, Maria do Rosário, Luiz Negrinho e Clóvis Ilgenfritz. Em Discussão Geral e Votação esteve o Projeto de Lei do Legislativo nº 30/93 que, a Requerimento, aprovado, do Vereador Jocelin Azambuja, teve sua votação adiada por uma Sessão. Ainda, foram aprovados os seguintes Requerimentos: do Vereador Isaac Ainhorn, de Voto de Congratulações com o Jornal Correio Metropolitano, pela passagem de seu primeiro aniversário; do Vereador Jocelin Azambuja, de Moção de Apoio à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, pela iniciativa de criação de um projeto regional de proteção ambiental permanente para a área do Lami, com base no manifesto: “Lami: um alerta para a Administração Municipal”, apresentado na Tribuna Popular pelo Médico Newton Brucker, no dia de hoje. Em EXPLICAÇÃO PESSOAL, o Vereador João Bosco declarou ter o Vereador Jocelin Azambuja, anteriormente, assumido posições contrárias à construção do Ciep Esportivo do Bairro Menino Deus, registrando a inauguração, ontem, desse Ciep. Analisou a importância de obras deste tipo, tendo em vista viabilizarem elas o contato sadio com o esporte amador de parte da nossa comunidade mais carente. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, a Vereadora Maria do Rosário comentou as dificuldades que vem sendo encontradas pela classe estudantil para a fabricação de suas cadernetas de passagem escolar. Relatou caso ocorrido com os Grêmios Estudantis dos Colégios Protásio Alves e Mesquita, que tiveram devolvidas as cadernetas enviadas à Secretaria Municipal dos Transportes, por nas mesmas constarem os “slogans” desses Grêmios, questionando os reais interesses da Secretaria Municipal dos Transportes nessa situação. O Vereador Antonio Hohlfeldt declarou-se preocupado com interdição e embargo sofrido de parte da Secretaria Municipal de Obras e Viação, SMOV, por obra realizada pelo Centro Comunitário do Jardim Coinma, na Zona Norte, que visava adaptar um espaço da Associação para instalação de um posto de saúde. Atentou para a importância desse posto para a comunidade local, indagando dos motivos pelos quais a atuação da SMOV, nesse caso, foi tão imediata, ocorrendo o embargo logo após a interdição, o que tradicionalmente não é feito por essa Secretaria. O Vereador Jocelin Azambuja reportou-se ao pronunciamento do Vereador João Bosco, em que é referido que Sua Excelência seria contrário ao Ciep Esportivo do Bairro Menino Deus. Declarou que tal não condiz com a realidade, sendo, juntamente com a comunidade do Bairro Menino Deus, contrário apenas ao local escolhido para essa obra. Denunciou ter a Secretaria Estadual de Educação diminuído o número de vagas nas escolas da área visando o preenchimento das vagas no Ciep Esportivo recém inaugurado. Às doze horas e vinte e dois minutos, constatada a inexistência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Luiz Braz, Airto Ferronato e Clóvis Ilgenfritz e secretariados pelo Vereador Wilton Araújo. Do que eu, Wilton Araújo, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.
(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)
O SR. PRESIDENTE (Luiz
Braz): Nós
temos hoje a satisfação de recebermos aqui membros da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência do Rio Grande do Sul. Presente o Dr. Newton Brücker,
membro da Comissão de Meio Ambiente da SBPC, e, também, a Professora Brazilicia
de Souza. Muito obrigado pela presença. É uma honra para esta Casa tê-los aqui
conosco.
O assunto a ser tratado é sobre a necessidade da criação de fórum de
debates em torno da região do Lami. A palavra está à disposição do Sr. Newton
Brücker no espaço concedido pela Lei Orgânica, artigo 100.
O SR. NEWTON BRÜCKER: Em primeiro lugar, em nome
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, nós agradecemos a cedência
desse espaço gentilmente permitido pela Mesa Diretora, através do seu
Presidente, Ver. Luiz Braz.
O objetivo da nossa vinda é tentar alertar esse Parlamento sobre o que
está acontecendo nesta bela Região do Extremo Sul de nossa Cidade de Porto
Alegre. A SBPC tem preocupado-se, ao longo do tempo, em relação à proteção
ambiental.
O Lami, eu diria nas duas últimas administrações municipais, foi contemplado
com obras muito importante do ponto de vistas de saneamento básico. Realmente a
Administração Popular, talvez, tenha sido a única, nas últimas décadas, a
aportar recursos de vulto, atendendo interesses da comunidade em relação ao
Saneamento básico. Ali foram colocadas redes de água, construída uma estação de
tratamento de água, e, principalmente, foi estruturada uma coleta e tratamento
de esgotos. Isso tudo é muito importante quando se trata de agressão ao meio
ambiente. Com essas obras de vulto, ocorreu que o Lami se tornou alvo de muitos
interesses. De repente o Lami que estava tranqüilo, era uma região rural,
bucólica, silenciosa, longe de Porto Alegre, sofre uma transformação brutal em
termos de exploração imobiliária, em termos de fragmentação irregular do solo,
há uma acentuada proliferação de loteamentos clandestinos, há um extrativismo
irregular de saibro, há uma remoção de cobertura vegetal nativa, enfim, nós,
agora, estamos contemplando uma verdadeira poluição ambiental. O Lami até há
pouco tempo estava despoluído. Sobre a ótica ambientalista, o Lami agora passa
a ser altamente visado do ponto de vista de agressão ambiental.
É nesse sentido que a SBPC vem há anos observando a evolução,
desenvolvimento da Região do Estremo Sul com cuidado. O Lami é uma região de
particular interesse ambiental, porque ali nós encontramos os últimos
ecossistemas ainda intocáveis. Nós temos os últimos resquícios da Mata
Atlântica. Nós encontramos ecossistemas ainda intactos. O ecossistema hídrico,
costeiro e de mata, porém, há necessidade do ponto de vista da SBPC que se crie
nessa região um projeto de vigília ambiental permanente. Eu tenho dito que não
basta o Lami estar inserido dentro dos Projetos Pró-Guaíba e do Projeto Guaíba
Vive, porque são projetos que se desenvolvem lentamente. O Lami necessita
urgentemente de um projeto de vigília ambiental permanente. Nesse sentido, a
SBPC acha oportuno que se crie um fórum de debate com os mais variados
segmentos da sociedade e entidades governamentais e não-governamentais a fim de
que surja uma proposta de interesse global.
Eu chamo a atenção de que o Lami não deve ser visto sob um enfoque
sub-atômico, sob um enfoque microscópico. O Lami, por sua localização
geográfica, entre a reserva do Município e Parque Estadual de Itapuã, deve ser
encarado de uma forma global envolvendo inclusive interesses dos Municípios de
Viamão e Barra do Ribeiro.
A proposta da SBPC para esse programa de vigília ambiental permanente
diz respeito aos seguintes itens: consideramos interessante o monitoramento
ambiental costeiro - isto seria importante para coibirmos os incêndios que
ocorrem com muita freqüência na época de janeiro e fevereiro -, poderíamos
atuar mais intensamente sobre os loteamentos clandestinos, sobre a poluição
doméstica e sobre a pesca predatória.
Outra proposta é o gerenciamento das microbacias dos arroios e aí quero
destacar o trabalho fantástico que o DMAE vem fazendo já há muito tempo, mas
que precisa ser ampliado e estendido a outros arroios.
Temos também que fazer um inventário da cobertura vegetal nativa e a
recomposição da mata ciliar. Imaginamos que este trabalho possa ser feito com o
auxílio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul através do Centro de
Assessoramento Remoto, pois, com isto, teríamos um inventário de toda a
cobertura vegetal de toda aquela região, impedindo destruições futuras.
Propomos ainda o controle náutico de cabotagem.
Srs. Vereadores, chamo a sua atenção pois esta é uma situação
extremamente perigosa. Nossos canais de navegação - o Canal do Junco e o Canal
do Campanário - recebem transporte de cabotagem noturno de cargas tóxicas, o
que ocorre diariamente, colocando em risco, num eventual acidente de curso,
toda a flora e a fauna do Parque,
porque o canal de navegação nesta região é extremamente difícil. O canal
de navegação, na passagem do Canal do Junco para o Canal do Campanário, tem tão
somente 35m de largura. Temos um afunilamento natural que ocorre entre a Ponta
da Forleza e a Ilha do Junco. Nesta região, tendo em vista as características de
corrente e vento, há necessidade de práticos expedientes na condução dos navios
de grande porte. Temos que exercer um certo policiamento pois que esse tráfego
de cabotagem tem sido feito de uma maneira muito irresponsável.
Uma outra proposta é o controle do extrativismo dos morros. Isso se
deve pela importância, pela conservação dos sítios arqueológicos. Essa região
toda é rica em sítios arqueológicos, mormente na região do Parque Estadual de
Itapuã e do Morro da Formiga. Esses sítios arqueológicos, pelo extrativismo e
pela procura de tesouros têm sido duramente danificados. Nós temos que fazer um
macrozoneamento costeiro da região, tanto da área leste como oeste, e para isso
o assessoramento remoto, novamente vem à tona. E, finalmente, achamos
interessante a criação de um Centro de Estudos Biológicos Costeiros, o CEBICO,
à semelhança do CECLIMAR de Imbé.
É claro que as entidades envolvidas, governamentais e
não-governamentais, nós temos que fazer um trabalho suprapartidário,
multidiciplinar, envolvendo FEPAM, grupamento florestal da Brigada Militar,
IBAMA, SMAM de Porto Alegre, DMAE, Veleiros do Sul, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, DEPREC, ULBRA, UNISINOS e ordens como os Irmãos Lassalistas. São
entidades importantes que deveriam participar desse programa. Os recursos
financeiros já se avizinham. Para esses programas de proteção ambiental nós
temos recursos em nível nacional através do Conselho Nacional do Meio Ambiente,
nós temos a FAPERGS e temos a iniciativa privada; empresas como a Riocel e Avipal
estão extremamente sensibilizadas na proteção ambiental dessa região.
Eu concluo, Srs. Vereadores, e permitam que eu encerre esta
apresentação lendo um pequeno trecho da carta de Seatle, que foi o primeiro
manifesto ecológico moderno do Cacique Seatle ao então presidente dos Estados
Unidos, Wilian Pears, em 1834: “Esta água brilhante que corre nos riachos e
rios não é somente água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos
a terra, vocês devem lembrar-se que ela é sagrada e devem ensinar aos seus
filhos que ela é sagrada e que a cada reflexo de espírito na cristalina água
dos lagos revela acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. Lembrai-vos
sempre que o murmúrio das águas nada mais é do que as vozes de nossos
ancestrais.”
Senhores, o Lami é um magnífico bairro do nosso Planeta Água. Espero ter
sensibilizado os Srs. Vereadores, a Mesa Diretora, de que alguma coisa
deve ser feita. Agradeço, até agora, todo o investimento e toda a atenção que a
Administração Municipal tem dado à nossa região. A SBPC solicita, somente, que
o Lami seja visto de uma forma global. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra, o Ver. Guilherme Barbosa, nos termos do art. 206 do Regimento.
O SR. GUILHERME BARBOSA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Dr. Newton. Com muita atenção, com muita satisfação, acompanhei a
explanação do Senhor. Coincidentemente, fui Diretor do DMAE com o Prefeito
Olívio Dutra, que teve a oportunidade de executar aquelas obras no Lami, após
uma análise longa e pacienciosa sobre a forma pela qual deveríamos atuar
naquela Região Extremo Sul de nossa Cidade.
Inicialmente, havia uma discussão sobre o abastecimento regular de
água, a partir da pressão da comunidade do Lami. Lá temos uma comunidade de cerca
de duas mil pessoas permanentes. Portanto, havia esse debate, se deveríamos
construir uma estação de tratamento no local, ou se deveríamos levar uma
adutora a partir de Belém Novo até o Lami, com um comprimento de um pouco mais
de 9km, de um ponto a outro. Decidimos construir a pequena estação de
tratamento no local, em primeiro lugar, porque a obra da adutora seria três
vezes mais cara e, em segundo lugar, exatamente pelas razões que o Senhor aqui apresentou: o Lami deve ser mantido com
suas características. Se estendêssemos uma adutora ligando Belém até o Lami,
iríamos adensar populacionalmente toda a região de maneira que não haveria mais
este isolamento que, na minha opinião, o Lami deve ter. Decidido que
construiríamos uma estação de tratamento de água no Lami, a questão colocada
era até onde deveríamos estender esta rede de água. Permaneceríamos no pequeno
povoado, ou levaríamos mais adiante a rede.
De novo, pelas mesmas razões que a SBPC traz, nós decidimos, apesar de
sofrer pressão muito forte, inclusive por esta Casa - alguém de maneira muito
grosseira, na ocasião, disse que o Ver. Valdir Fraga não iria receber água, o
que não era verdade - não descaracterizar o Lami. Ontem, estive conversando com
técnicos do DMAE que me informaram que o DMAE pretende estabelecer todo um
procedimento de gerenciamento de Bacias do Lami. Isso significa que vamos
trabalhar não só com a comunidade ali estabelecida, mas em toda a Bacia que
chega ao Rio Guaíba.
Coloco-me à disposição e toda a Bancada do PT para que levemos essa
posição até o Executivo Municipal. Tenho certeza que ela será recebida com
muita satisfação, porque temos a visão de que o Lami tem que ser preservado.
Era inevitável o abastecimento regular de água, por isso construímos uma
estação de tratamento de esgotos que funciona maravilhosamente bem. O efluente
da estação de tratamento tem um índice de doze coliformes por 100ml, isso quer
dizer que é quase potável por si mesma. O efluente da estação de tratamento é,
também, um método ecológico, já que não se usa energia, ou qualquer produto
químico. A natureza, por si mesma, dá a queda da poluição.
Então, muito obrigado e estamos à disposição. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. Jocelin Azambuja está com a palavra, nos termos do art. 206 do Regimento.
O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente, meu caro
amigo Newton Brücker, com quem tivemos a oportunidade de conviver por muitos
anos de luta da propaganda médica, colegas Vereadores, demais membros da SBPC
aqui presentes, membros da Comissão de Meio Ambiente. Nós nos sentimos muito
felizes de podermos vir a esta tribuna, neste momento, porque tivemos a
oportunidade de passar praticamente todas as nossas férias escolares, na época
de criança, jovem e adolescente, no Lami. Na década de 50 e 60 nós freqüentamos
o Lami, e tínhamos a alegria de acampar no Morro do Cego, no Morro do Coco, de
ver os bugius, os jacarés, enfim, de conviver com toda a fauna e flora que
existe naquela região. Tivemos a alegria de pescar e de nos desenvolver dentro
de um ambiente rico pela natureza, e era uma época em que o Lami não tinha luz,
nem os confortos da vida moderna, mas que tinha aquilo que é fundamental: o
convívio permanente com a natureza. As famílias passavam ali um lazer
maravilhoso. Muitos dos que ali moravam, pescadores que viviam daquele meio
ambiente tinham uma alegria muito grande.
Posteriormente, quando veio a luz, surgiram os problemas para o Lami.
Com a chegada da luz, o Lami começou a sofrer uma ação predatória muito grande.
Eu me recordo que havia uma figueira na Rua Nova Olinda, na beira da praia, uma
figueira maravilhosa, onde era a reunião da juventude do Lami. Nos reuníamos,
diariamente, debaixo daquela figueira, e com o advento da luz elétrica, as
pessoas começavam a ir para o Lami nos fins de semana e um dia, quando chegamos
na beira da praia, tinham colocado fogo para fazer churrasco na base da
figueira, a acabaram destruindo a figueira centenária. E assim tem sido e eu
acho muito justa a preocupação da SBPC em fazer uma mobilização de todos os
porto-alegrenses de toda a região e de todos os gaúchos para atentarem para
aquela região maravilhosa que nós temos na nossa Cidade e, também, no Município
de Viamão. Porque não é admissível que a gente vá destruindo tudo aquilo que a
natureza levou tantos anos para construir. Eu, que tive a oportunidade de ver o
Lami na sua beleza, na sua tranqüilidade, na sua paz, no convívio belíssimo do
homem com a natureza, tive a infelicidade de ter que assistir, depois, ao homem
ir lá destruir a natureza. Isto me marcou muito, e, toda a vez que vou ao Lami,
sinto aquela tristeza em ver que está sendo destruída uma região maravilhosa da
nossa Cidade e dos Municípios que cercam aquela região.
É fundamental nós preservamos, de forma positiva, a nossa natureza e
tudo isto se reflete, sempre, naquela teclinha que a gente tem batido nesta
tribuna: tudo isso é um problema de educação do nosso povo. Como não temos
educação, temos isso aí que estamos vendo permanentemente: as pessoas
destruindo aquilo que a própria natureza entregou ao homem, por não terem os
princípios fundamentais da educação. Isso nós precisamos reverter e por isso é
fundamental termos sempre presente que, em tudo o que vamos olhar, chegamos na
base que é o processo de educação do povo. Com um povo sem educação só pode
acontecer isso: pega a sua churrasqueira, bota embaixo de uma figueira milenar
e a destrói em alguns minutos.
Essa realidade, para ser mudada precisa, justamente, da mobilização de
toda a sociedade. Por isso estão corretos os membros da SBPC, da Comissão de
Meio Ambiente, o Dr. Newton Brücker e seus colegas, vindo buscar, de todos os
partidos políticos, o apoio para esta mobilização que é um dever de todos nós.
O PTB, Sr. Presidente, para concluir, encaminhou à Mesa, agora, uma Moção
de Apoio, assinada por todos os membros da sua Bancada, a este manifesto:
“Lami, um alerta para a Administração Municipal” e que nós esperamos que,
quando vier a votação, todos os partidos apoiem e nós estejamos, então,
mobilizados para fazer a preservação necessária daquela área tão importante
para o futuro da nossa comunidade. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra o Ver. Lauro Hagemann, pelo PPS, nos termos do art. 206 do Regimento.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores; Prezado Dr. Newton Brücker; Prezada Prof.ª Bazilicia. A minha
oração será breve, apenas para dizer que o PPS se soma, também, à preocupação
dos cientistas, da população, na luta pela preservação do Lami.
Há trinta anos conheço o Lami, tive lá um terreninho com uma casinhola
na Travessa Bernardi, paralela à Nova Olanda, bem no centro do Vilarejo.
Então, conheço o Lami desde os tempos em que não havia luz elétrica.
Hoje, o Lami progrediu, tem luz, tem água, tem arruamento. E isto traz,
naturalmente, as conseqüências desse progresso, que é tudo aquilo que a SBPC
tão bem nomina no seu manifesto.
Quero dizer que não saiam sem a certeza de que estas Casa tem, também,
a preocupação na defesa daquele belíssimo ambiente, um dos últimos recantos
naturais do Município de Porto Alegre e ao alcance da população mais carente da
Cidade. E é preciso que se preserve aquele ambiente. E é preciso, como disse o
Ver. Jocelin Azambuja, que haja uma educação popular, para que também o homem
que vai aproveitar aquele belíssimo cenário seja responsável pela preservação
dele. E nisso temos mútua responsabilidade, a Câmara, a sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência, a Municipalidade em si, e a própria população.
Gostaria que saíssem daqui com a certeza de que estamos atentos,
também. E vamos ficar monitorados pela SBPC, porque os assuntos aqui são tão
variados que, às vezes, a gente tem a tendência de esquecer aqueles que não são
permanentemente avivados na nossa memória. Tenham sucesso neste propósito.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Mário
Fraga, que falará em nome da Bancada do PDT.
O SR. MÁRIO FRAGA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, Sr. Presidente do SBPC. Nós da Bancada do PDT e eu, especialmente,
Ver. Mário Fraga, viemos dar o apoio a este processo do Lami e como diz o Ver.
Lauro Hagemann que conhece há trinta anos, eu também conheço há exatamente
trinta anos, pois a primeira vez em que estive no Lami tinha oito anos. Sou
nascido em Belém Novo e conheço bem a região, e conheço praticamente quando não
existiam estradas e para chegar lá era através de estradas de chão batido, para
chegar a beira da praia. Depois que saía-se da estrada do Lami, entrava-se na
Estrada José Otaviano Pinto, e era uma dificuldade muito grande. Graças a Deus
foi evoluindo e, nos últimos tempos, melhorou bastante. Acho que foi no Governo
João Dib ou do Governo Villela que foi feito asfalto e aquela região melhorou
muito e de lá para cá vem melhorando e, realmente, na última administração, na
Diretoria do DMAE quando estava o Ver. Guilherme Barbosa, muito foi feito pela
Administração Popular e nós nos sentimos honrados com esta defesa da SBPC. Nós
do PDT, em especial este Vereador, vamos dar-lhe todo o apoio e nos colocarmos
à disposição para o que for preciso. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos, mais uma vez,
agradecer as presenças da Dr.ª Brazilicia de Souza, que é da Comissão Nacional
do Meio Ambiente da SBPC, e também do Dr. Newton Brücker, que é da Comissão
Nacional do Meio Ambiente da SBPC. Esta Casa se coloca à inteira disposição da
SBPC para que esta luta possa ser feita realmente ombro a ombro, lado a lado, e
vi também que o propósito Executivo Municipal, através do Ver. Guilherme Babosa,
também já se colocava à disposição da entidade para que esta luta realmente
possa ter seqüência e eu fico contente, porque o clamor, que foi respondido por
esta Casa, encontrou eco e acredito que em outros lugares também, através da
Tribuna Popular.
Está com a palavra o Sr. Newton Brücker.
O SR. NEWTON BRÜCKER: A SBPC fica bastante
sensibilizada com esse apoio maciço de todas as Bancadas, da Presidência, da
Mesa Diretora, mais uma vez muito obrigado aos Senhores Líderes de Partidos,
aos Srs. Vereadores, enfim a todo o Parlamento Municipal. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Passamos
à
1ª SESSÃO
PROC. 0456/94 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO
LEGISLATIVO Nº 002/94, do Ver. Antonio Hohlfeldt, que regula o artigo 150 da Lei Orgânica
Municipal e dá outras providências.
PROC. 0417/94 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO
LEGISLATIVO Nº 001/94, do Ver. Isaac Ainhorn, que dá nova redação ao art. 2º da Lei
Complementar nº 285, de 29 de dezembro de 1992.
PROC. 0541/94 - PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº
016/94, que
cria o Fundo Municipal de Apoio às Atividades de Segurança, Controle e Fluidez
do Trânsito - FUNTRAN.
PROC. 0654/94 - PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº
017/94, que
autoriza o Executivo Municipal a abrir crédito especial no valor de CR$
30.000.000,00 e dá outras providências.
2ª SESSÃO
PROC. 2754/91 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
234/91, do
Ver. João Bosco, que dispõe sobre a homenagem a ídolos esportivos em
logradouros públicos e dá outras providências. (Com Substitutivo nº 01)
PROC. 3076/93 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
158/93, do
Ver. Pedro Américo Leal, que concede o Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Padre Antonio Juarez de Moura Maia.
PROC. 0521/94 - PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº
12/94, que
autoriza o Poder Executivo a refinanciar (a dívida imobiliária, quando for o
caso, e) os saldos devedores de operações de crédito interno de
responsabilidade da administração direta (quando for o caso), indireta do Município,
junto a órgãos e entidades controlados direta ou indiretamente pela União, e dá
outras providências.
PROC. 2986/93 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO
LEGISLATIVO Nº 43/93, do Ver. Mário Fraga, que estabelece adiantamento ao funcionário
Municipal, com posterior desconto parcelado em folha de pagamento, dos valores
relativos ao Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU).
PROC. 0481/94 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
09/94, do
Ver. Mário Fraga, que determina que as placas indicativas de parada para os
passageiros do transporte coletivo sejam pintadas, em seus contornos, com tinta
fosforescente.
PROC. 0527/94 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO
EXECUTIVO Nº 006/94, que altera os limites da Unidade Territorial Industrial 01 e Unidade Territorial
Residencial 07, da Unidade Seccional Intensiva 19, e modifica o regime
urbanístico a ser observado em Área Funcional estabelecida pela Lei
Complementar nº 43, de 21 de julho de 1979, e dá outras providências.
3ª SESSÃO
PROC. 0311/94 - PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 001/94, da Ver.ª Letícia Arruda, que
autoriza a Câmara Municipal de Porto Alegre a editar uma “Cartilha de
Orientação às Adolescentes” sobre anticoncepção e a respeito de doenças
venéreas e dá outras providências.
PROC. 0312/94 - PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 002/94, da Ver.ª Letícia Arruda, que
autoriza a Câmara Municipal de Porto Alegre a editar um “Guia de Informação
sobre os Malefícios Ocasionados pelo Tabagismo e Abuso de Drogas” e dá outras
providências.
O SR. PRESIDENTE: Não há oradores inscritos em
Pauta.
Há quórum. Passamos à
PROC. 1936/90 - VETO PARCIAL ao PROJETO DE LEI
COMPLEMENTAR DO LEGISLATIVO Nº 28/90, do Ver. Lauro Hagemann, que dispõe sobre o Instituto
do Solo Criado no Município de Porto Alegre.
Pareceres
- da CFO, Relator Ver. Antonio Hohlfeldt:
pela manutenção do Veto Parcial;
- da CUTHAB, Relator Ver. Mário Fraga: pela
rejeição do Veto Parcial;
- da CEDECON, Relator Ver. Milton Zuanazzi:
pela rejeição do Veto Parcial.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão. Para discutir,
com a palavra o Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, ocupo a Tribuna para discutir o Veto do Sr. Prefeito a este Projeto
que foi longamente discutido nesta Casa, objeto de negociações muitos tensas,
mas que finalmente acabou sendo aprovado com o voto de ampla maioria da Casa.
A Casa entendeu que era um Projeto capaz de balizar o futuro da Cidade.
E foi esta a intenção do autor e de todos que tiveram a oportunidade de discuti-lo
na antevéspera da sua aprovação.
Quero dizer com toda a tranqüilidade que não me disponho e não pretendo
predispor a Casa a uma queda de braços com o Executivo. Mas acho que a Casa tem
que dar uma indicação, um sinal de que o Executivo, a Prefeitura de Porto
Alegre tem interesse em começar a resolver o problema da periferia. E, nesse
aspecto, eu quero dizer, com toda a fraternidade, que o Sr. Prefeito cometeu um
equívoco ao basear as razões do Veto no conceito genérico de contrário ao
interesse público.
Eu tenho a sincera convicção, e acho que consegui convencer a Casa, de
que o Projeto do Solo Criado era exatamente com a intenção de beneficiar o
interesse público. O que significa interesse público nesse caso? É o começo do
atendimento de quatrocentas mil pessoas que vivem em condições subumanas na
periferia da Cidade. Então, vamos resolver isto de uma vez só e com um Projeto.
Mas é um balisamento, é um começo.
Então, me parece que se nós rejeitarmos o Veto do Sr. Prefeito, nós
estamos dando um sinal muito claro à população desta Cidade de que a Prefeitura
de Porto Alegre quer resolver o problema desta periferia. E o Veto foi parcial,
é verdade, e nós estamos dispostos, e eu já disse isto particularmente ao Sr.
Prefeito, digo da tribuna, no nosso compromisso de continuarmos discutindo este
assunto, porque agora, há 5 minutos, eu li o teor de uma Ordem de Serviço do
Sr. Prefeito, instituindo uma Comissão que vai estudar, dentro de trinta dias,
o funcionamento do Fundo Municipal de Desenvolvimento, que é criado, no Projeto
do Solo Criado, justamente para gerenciar este aspecto do Projeto aprovado,
este e outros que nós ainda carecemos da aprovação aqui, do Projeto do Banco de
Terra, que está pronto, da função social da propriedade, o IPTU Progressivo, existem
várias questões que estão alinhadas paralelamente, e que confluem todas para o
mesmo objetivo, que é o de regularizar a situação fundiária caótica do
Município de Porto Alegre.
Não foi por nós estabelecido este caos, mas ele está-se avolumando, e
nós precisamos ter a precaução de, preventivamente, já começarmos a controlar
este crescimento desordenado. Tenho o máximo de carinho pelas pessoas do
Executivo, mas me parece que não foi a melhor saída o Veto, justamente à coluna
vertebral do Projeto, que era a aplicação dos recursos, advindos da venda dos
índices, na regularização fundiária. Até porque há um dado muito interessante,
nós pesquisamos no Orçamento do Município e aquilo que é a prioridade apontada
pelas sucessivas reuniões do Orçamento Participativo, que é a regularização
fundiária, tem uma verba que não condiz com esta condição prioritária. É menos
de 3,6% da aplicação global na questão da regularização.
Este Projeto daria o suporte efetivo para que esta regularização fosse
iniciada com mais velocidade, porque nós estamos carecendo desta regularização
fundiária, até para beneficiarmos a Cidade tradicional, a Cidade constituída, e
não a periferia que está engolfando esta população permanente no Centro da
Cidade, criando problemas de segurança, de limpeza, de abastecimento, de
trânsito, uma série de conseqüências.
Por isso, Srs. Vereadores, eu não gostaria de me alongar mais, quero
manter o respeito que tenho tido com a Administração Municipal, mas gostaria
que nós rejeitássemos o Veto com o compromisso de continuarmos conversando
sobre a regulamentação do fundo municipal de desenvolvimento em caráter global.
Era isso que eu pediria aos prezados companheiros Vereadores que ajudaram e
tiveram a sensibilidade de aprovar este Projeto, quando ele foi discutido aqui.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. Clovis Ilgenfritz está com a palavra, para discutir o PLCL nº 28/90.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Eu vou pedir uma atenção especial do Ver. Lauro Hagemann, porque eu
acho que o Vereador está incorrendo num erro de interpretação. Eu tenho certeza
de que V. Ex.ª estaria cerrando fileira conosco desde o início, se não houvesse
alguma informação equivocada. Eu digo isso com a maior tranqüilidade, porque
nós discutimos este assunto muitas vezes. Acontece que, no fim do ano passado,
esta Casa aprovou várias leis de alta importância social e que poderiam até
significar uma mini-reforma urbana, bem aplicadas e colocadas em prática. Não é
só o Solo Criado, que é um Projeto fundamental, mas é a função social da
propriedade e outros projetos que aprovamos, como o parcelamento do solo e etc.
Houve uma polêmica e nós, no momento da votação, por encaminhamentos e
por negociações bastante difíceis e complexas, fomos derrotados numa questão
que consideramos, como o Vereador considera, questão chave do processo.
Diferente do que o Ver. Lauro Hagemann e sua assessoria têm equivocadamente, do
nosso ponto de vista, interpretado isto. Diferente disso, estamos querendo
viabilizar o Projeto do Solo Criado. E para viabilizar, Ver.ª Maria do Rosário,
Ver. Pedro Ruas, estamos aqui para tentar convencer as pessoas, ou então o
nosso discurso é desnecessário.
Quero, com o maior respeito, dizer que o Ver. Lauro terá garantidas as
suas intenções no projeto que nós estaremos fazendo juntos, se nós não
deixarmos o projeto com esse parágrafo 3º do art. 10, uma espécie de
engessamento do Projeto.
Vejam bem, no Projeto original se falava em 60% do recurso através do
FMDU, 60% para a aquisição de áreas urbanas, de obras de urbanização. Ver.ª
Clênia, este dado de obras de urbanização é uma coisa que, no nosso entender,
Ver. Mazaroppi, viabiliza o que está sendo proposto pelo Solo Criado: é o uso
do FMDU, da maior parte deste recurso, para este tipo de serviço e não apenas
para a compra da terra como ficou na emenda. A emenda coloca 70% para comprar
terras. Tudo bem, vamos comprar terras e mais terras, e depois como vamos
urbanizar esta terra? Não tem dinheiro. O dinheiro da urbanização vai para
terra e para o sistema de infra-estrutura e urbanização.
Eu pediria aos Vereadores Pedro Américo, Gregol e Jair que estão nos
escutando, que vejam este aspecto: nós estamos com o maior respeito e
transparência. Queremos derrubar aquele parágrafo, porque infelizmente não dá
para colocar outro em seu lugar neste momento. É verdade que a Lei fica com
esse vazio, não estou dizendo que outra coisa tenha sido mentira, mas é um
problema de equívoco ou do modo de interpretar.
Nós fomos ao Prefeito ontem, junto com a Comissão do Executivo, pessoas
representando entidades não governamentais que trabalham com a Cidade,
representantes da UAMPA, representantes do Gabinete do Vereador Lauro, lá o representante do Vereador, nosso dileto
companheiro Gutherres, disse que nas condições que estávamos colocando ele
aceitava, e hoje ficamos um tanto atômicos nos perguntando: se ontem discutimos
e entendemos que dava, desde que a Prefeitura se comprometesse com uma coisa, e
aqui, Ver. Nereu, o compromisso da Prefeitura que eu acho que o Ver. Lauro
Hagemann tem absoluta razão, e nós não faríamos se não fosse assim, é de
regulamentar, conforme a própria Lei do Solo exige, no art. 13, se não me
engano, que o Solo Criado, será regulamentada a aplicação dos seus recursos,
através de uma Lei que é a do Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano, que
por sua vez vai fazer a ligação com a Lei existente atualmente que usa a venda
de índices. Nós juntaríamos tudo isso numa lei só, faríamos esta consolidação,
e estaríamos preenchendo a lacuna que hoje poderia ficar. Este é a nossa
proposta.
O Sr. Nereu D’Ávila: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, V. Ex.ª está com um documento que é uma
Ordem de Serviço. Isso representa um compromisso da Prefeitura?
O SR. CLOVIS
ILGENFRITZ: Vou
tentar ler para V. Ex.ª.
O Sr. Nereu
D’Ávila: Era
isso o que eu queria.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Eu ia chegar nesse ponto e o
Ver. D’Ávila me transmitiu uma preocupação que eu acho muito importante.
O Sr. Pedro Américo Leal: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) V. Ex.ª sabe como é que nós votamos aqui. V. Ex.ª
colocou um argumento agora que me bota de atalaia sobre essa parte indisciplinada
de aquisição de terras que ninguém pode saber até onde vai, com detrimento, na
verdade, do descontigenciamento da obra. Eu pedi ao Ver. Hagemann que se
pronunciasse porque existe uma dúvida. Em que vamos acreditar? Claro que
ninguém duvida das boas intenções de um Prefeito de uma Capital como Porto
Alegre e de um Partido político que está engajado numa obra. V. Ex.ª colocou e
eu falei com o Ver. Lauro Hagemann para
que ele se posicionasse, porque tenho que votar diante de argumentos. E V. Ex.ª
apresentou um argumento agora que me coloca em dúvida.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Eu gostaria de continuar o
argumento para acabar com as dúvidas. É lógico que o que vai valer será a
palavra do Prefeito que vem assinada aqui. O que discutimos ontem foi isso. Nós
aceitamos o Veto para não haver um engessamento prévio que depois prejudica a
própria execução da Lei do Fundo.
Depois, na Lei do Fundo vamos satisfazer essas questões que a UAMPA, a
Prefeitura, o gabinete do Ver. Lauro e outros têm interesses que devem ter a
nossa concordância. Mas baseados em dados técnicos, legislativos, achamos que é
muito sério. Porque se deixarmos essa Lei como está, se for necessário mudá-la
teremos que fazer uma Lei Complementar que precisará de dois terços para mudar
um artigo. E agora não, nós podemos fazer a Lei do Fundo Municipal de
Desenvolvimento Urbano em uma semana, mandar para esta Casa em quinze dias -
poderemos acertar essas datas - e aí estaríamos com todo o processo resolvido
porque não só esta Lei vai viabilizar o solo criado. O Ver. Lauro concorda com
isso. Tem que haver a regulamentação, que nós queremos com urgência.
O Prefeito mandou para nós, especificamente, sobre o Veto, é o Fundo
Municipal de Desenvolvimento Urbano.
O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Verle se inscreve
e cede o tempo a V. Ex.ª.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Eu quero ser breve para que
possamos dar cumprimento à tarefa de sexta-feira. (Lê correspondência do
Executivo Municipal.)
Eu penso, Srs. Vereadores, que é uma tarefa difícil para mim estar aqui
tentando convencer pessoas que estão bastante instruídas sobre o assunto. Mas
penso que é a forma melhor de resolvermos esta questão. Aceitamos o Veto
Parcial, porque a Lei não está sendo colocada em dúvida, ela foi apoiada por
todos, e fazemos a Lei do Fundo Municipal de Desenvolvimento, que seria a chave
do processo de implementação desta questão.
Mais uma vez, sem maiores delongas, queremos pedir aos Vereadores que
ainda têm dúvidas, que até por aparte, nós, dentro do possível, estaríamos
tentando esclarecê-los. Essa é uma discussão colegiada que houve na Prefeitura,
eu acho que com uma representação fundamental das partes envolvidas e que tem
uma seqüência comprometida por uma carta do Prefeito à esta Casa. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra o Ver. João Motta, para discutir o PLCL nº 28/90.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu gostaria de me posicionar sobre esse Projeto, um Projeto que eu
acho que foi uma das maiores conquistas da Cidade de Porto Alegre. E, sem
dúvida nenhuma, teve nesta Câmara, neste Legislativo, um papel destacado como
sujeito político na elaboração dessa decisão. Sem dúvida, foi um processo
difícil, todos nós nos lembramos das negociações que foram feitas naquele
processo no final do ano e também as
negociações que foram feitas agora, nesse período da chegada do Veto no
Legislativo até o dia de hoje, tentando-se encontrar uma saída para um possível
impasse político nessa decisão.
Eu gostaria de dizer que essa Ordem de Serviço nº 009, datada de hoje,
assinada pelo Prefeito Municipal, companheiro Tarso Genro, na minha opinião,
cria um fato político novo nesse processo, porque uma das polêmicas que existia
com relação ao Veto era exatamente saber se, em algum momento, o atual Executivo
iria se comprometer com uma visão que avançasse para além daquela visão que já
estava no Projeto, ou seja, no artigo que estamos discutindo hoje, o Veto. E me
parece que a Ordem de Serviço, na sua segunda parte, é clara, além de
determinar um prazo de 30 dias - na minha opinião poderia ser menos, mas tudo
bem - e além de determinar uma comissão de trabalho, que depois vou dar uma
opinião sobre essa comissão de trabalho. Na segunda parte diz claramente que os
recursos do FMD serão utilizados para três finalidades principais: aquisição de
áreas urbanas e obras de urbanização para os programas de banco de terra,
habitação popular e regularização fundiária; segundo: obras viárias e
saneamento nas regiões carentes da Cidade, bem como implementação de infra-estrutura;
e, investimentos em construções de albergues para crianças, etc.
Quero dizer que com isso abrimos, finalmente, um processo para
decidirmos aquilo que a Lei Orgânica traz em seu artigo. Acho que essa Ordem de
Serviço é a incorporação desse conceito, dessa idéia que está prevista na Lei
Orgânica do Município. Acho que recolocamos essa discussão naquele caminho que
a Câmara já havia apontado a partir de 89.
E por confiar e acreditar na palavra do Prefeito que assinou essa Ordem
de Serviço é que devemos dar esse sinal verde. Essa é minha opinião e minha
disposição, mantendo o Veto desse artigo. Entretanto, gostaria de fazer uma
breve advertência com relação a toda essa discussão que se fez: não foi por
acaso que se incorporou no texto da Lei que, num prazo determinado, um conjunto
de agentes iria elaborar o Projeto de Lei, e não foi por acaso que na Lei se
incluía a Câmara Municipal de Porto Alegre, e agora, a Câmara não aparece na
Ordem de Serviço. Tudo bem, está na Lei, vai ter que ser cumprido. Agora, acho
que como é uma negociação política que estamos fazendo, acho que deveria ser o
mais explícito possível. Eu não perdi nenhuma ordem, nem duas, perdi várias, e
quase perdi a paciência, na reunião de ontem, porque não é de ontem, nem de
vinte e quatro horas atrás, nem de dezembro de 93 que estamos discutindo isso.
Essa discussão existe há vários anos, começou em 1989 nesse Legislativo, na Lei
Orgânica. Era e é correto, de fato, nós cobrarmos do Executivo um sinal
concreto e efetivo, como acho que conseguimos, como é a Ordem de Serviço.
Acho que se a correlação da Comissão montada for amplamente favorável à
posição do Governo, através das várias Secretarias que são aqui elencadas, vai
ser difícil haver acordo. Por isso, acho importante esse freio que está
colocado na Ordem de Serviço, ou seja, o Projeto só vem para a Câmara se houver
acordo, Ver. Jair Soares, das entidades. Acredito que isso cria uma certa
tranqüilidade, uma certa confiança de que finalmente nós vamos entrar num
processo para decisão aonde serão aplicadas as verbas do Fundo Municipal de
Desenvolvimento.
Então, por todas essas razões lamentamos, de fato, o desgaste que isso
causou, inclusive o fato de ter de fazer uma manobra no Plenário para conseguir
viabilizar essa negociação, para conseguirmos o que se conseguiu. Repito, acho
que é um aspecto positivo e espero, de fato, que nesses trinta dias, não só o
Governo, mas todos aqueles parlamentares, representantes de ONGs que têm
legitimidade, sim, para participarem, dêem opinião nesse processo; não são só
os técnicos do Governo que podem dar opinião, por serem membros do Governo.
Acho que as ONGs têm obrigação de dar opinião sobre isso e certamente vão dar.
Estão participando, ativamente, de todas as reuniões que o Executivo vem
chamando, com relação a esse Projeto, e outros também.
Acho que nós devemos manter o Veto e aportar que nesses trinta dias nós
tenhamos, de fato, a tranqüilidade e a maturidade para conseguirmos dar
seqüência e objetivar numa lei clara, explícita, aquilo que a Lei Orgânica já
determinou em 89 e que, infelizmente, no transcurso desse caminho, de dezembro
até hoje, nós tivemos uma pequena guinada, tirando um pouco a visão do fundo,
daquilo que a Lei Orgânica previa.
Portanto, acho que nós avançamos nesse processo, lamentando o desgaste
e a dificuldade que nós encontramos para chegar a esse desfecho. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra a Ver.ª Maria do Rosário, para discutir o PLCL nº 28/90.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu acho que essa matéria é de extrema importância, assim como foi a
votação do Projeto do Solo Criado e traz uma nova característica para Porto
Alegre, a característica de discutir profundamente e tentar aplicar essas
questões que podem democratizar o acesso à moradia, à terra no nosso Município
e muito se avançou no ano de 93, com diversos projetos do Executivo e deste
Legislativo, com discussões avançadas desde a questão do parcelamento até essa
questão do Solo Criado, a instituição do Fundo Municipal de Desenvolvimento.
Parece que a Bancada do Partido dos Trabalhadores traz uma proposta
interessante; a proposta de que em trinta dias nós tenhamos a possibilidade de
ter, a partir de um Comissão, articulado o Fundo Municipal de Desenvolvimento.
No entanto, eu não consegui compreender onde é que essa proposta é incompatível
com o art.10º que destina os recursos do Fundo Municipal de Desenvolvimento.
Quando essa Casa discutiu o Fundo e a destinação dos recursos, me parece que
estava muito claro qual o papel que esse Fundo tem em uma Cidade como Porto
Alegre, frente à demanda existente, à necessidade de moradia popular e quando
esta Casa definiu, a partir de toda uma discussão com o Movimento Popular,
muito particularmente com as Associações de Moradores e com a UAMPA, a
destinação dos recursos na ordem de 70% para aquisição de terras, também não
foi por acaso.
Nós optamos, naquela discussão, que foi bastante movimentada, por um
caminho de viabilização da terra para centenas, milhares de pessoas que estão
completamente excluídas num processo, em um momento em que não existem na nossa
Cidade, em nível nacional, em nível estadual também, programas eficientes de
viabilização do acesso à moradia, do acesso à terra para famílias de baixa
renda - de um a três salários-mínimos -, e, de forma muito especial, àquelas
famílias de desempregados que todos os dias, lamentavelmente, por esta política
geral do País, por estes planos ensandecidos propostos pelos governos, se somam
a essa condição de desemprego.
O argumento discutido na Comissão de Defesa do Consumidor, chamou-me
extremamente a atenção. Ele foi levantado pelo Ver. Milton Zuanazzi e parece-me
que devemos ter preocupação com isso.
Os recursos do Fundo Municipal de Desenvolvimento não podem, Srs. Vereadores,
vir a se somarem aos recursos do Orçamento Municipal, àqueles que devem estar
destinados a programas de saneamento, à infra-estrutura, a todos os programas
de gerenciamento, de viabilização da Cidade.
A principal questão, quando se fala em moradia para o povo que não tem
aonde morar, é a terra; é o acesso a uma gleba, a um pedaço onde possa colocar
a sua Casa. Nós vamos dizer que é desnecessário pensar em infra-estrutura; nós
vamos dizer que é secundário se pensar em infra-estrutura. Não. Mas no momento
em que estamos vivendo, e sentimos a necessidade de mais de quarenta mil
pessoas vivendo em subabitações, distantes da possibilidade da moradia, o
acesso à terra é o principal. Eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso, assim
como esta Casa discutiu e não teve dúvida no momento em que votou este Projeto
no final do ano passado. Os recursos gerados pelo Instituto do Solo Criado não
podem - seria absurdo - substituir aqueles recursos que devem estar previstos
normalmente no Orçamento do Município para enfrentar as questões de
infra-estrutura, de saneamento. Isso que deve ser destinado e que existem em
dotações orçamentárias para as diversas Secretarias para este fundo.
O Fundo Municipal, criado conjuntamente com o próprio Solo Criado, vem
com outro objetivo: o objetivo do acesso à terra. E nós estaríamos desvirtuando
o Projeto se legislássemos num caminho que não o da manutenção do Projeto, se
legislássemos no sentido proposto pela Administração Municipal.
Por fim, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, parece-me importante dizer
que esse estabelecimento de uma comissão e de uma discussão toda, mais
claramente a agilização do Fundo Municipal, não me parece estar somada,
articulada, e mesmo condicionada à manutenção do Veto do Sr. Prefeito
Municipal. Acho que é possível fazer-se todo um processo de agilização
mantendo-se o Projeto como está, derrubando, portanto, o Veto e, no prazo de um
mês, voltarmos a discutir. Porque o que estamos definindo aqui é a questão de
que podemos ser sensibilizados por ela e, portanto, articular de forma
diferente.
Então, parece-me que podemos ter um processo todo de discussão numa
comissão para que possamos discutir mais um pouco, mas manter o Projeto como
ele está, como foi encaminhado para esta Casa pelo movimento comunitário, pelo
movimento popular e não condicionar uma questão a outra. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (Clovis
Ilgenfritz): Com
a palavra, o Ver. João Motta, por cessão de tempo do Ver. Antonio Hohlfeldt.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Volto à tribuna para chamar a atenção do Plenário para um aspecto.
Há um consenso, nas conversas entre os Vereadores, de que fixar 70% dos
recursos do Fundo para a aquisição de áreas pura e simplesmente é um equívoco.
Aliás, no Plenário, 90% dos Vereadores tem essa opinião. Ou seja, fixar 70% dos
recursos do Fundo para a aquisição. Pois bem, foi essa - gostaria até de contar
com a atenção do companheiro do Guarnieri, Presidente da UAMPA - uma proposta e
uma visão basicamente sustentada a partir da opinião da UAMPA neste Plenário,
por alguns Vereadores. O que nós, na verdade, estamos tentando fazer a partir
deste momento? Na verdade, companheiro Guarnieri, Srs. Vereadores e Vereadoras,
é reiniciarmos a discussão. A partir de que base? Dos 70% sugeridos pela UAMPA?
Não mais.
Eu diria que o índice já não é a questão fundamental, num primeiro
momento. Num primeiro momento é fundamental sabermos de que referência
partimos, ou seja, a prioridade do fundo vai ser para a aquisição de áreas ou a
prioridade dos recursos do fundo vai ser para esse conjunto de destinações que
está previsto na LOM e também na Ordem de Serviço? Ou seja, para aquisição de
áreas, sim. Mas também para obras de urbanização, para os programas de banco de
terras, para a habitação popular, para a regularização fundiária, para obras
viárias de saneamento em regiões carentes, para investimentos em construção de
albergues para crianças, etc.. essa é a questão sobre a qual o Plenário tem que
se posicionar. Nós partimos, Ver. Bosco, de 70%, para compra pura e simples de
áreas ou para aquisição de áreas e também para obras de urbanização, para
habitação popular? No conceito proposto pela UAMPA, num primeiro momento, não
está incorporado. A regularização fundiária é uma reinvindicação - o Ver. Luiz
Negrinho me acena, concordando - das comunidades. Portanto, o apelo que faço
nesse momento é para os Vereadores que, neste Plenário, sustentam a posição da
UAMPA.
Não estamos querendo excluir ninguém desse processo, ao contrário. Na
verdade, estamos, agora sim, instituindo um processo com a participação de
todos, inclusive da Câmara e da UAMPA. Nesses trinta dias vamos fazer toda a
negociação do novo, agora a partir de uma nova visão, que não só a de compra de
áreas que está equivocada. Noventa por cento dos Vereadores com os quais
conversei agora no Plenário discordam dessa idéia. Portanto, Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, se temos condições de trabalhar novamente este Projeto nesses
trinta dias, por que não fazê-lo e tentar convencer os Srs. Vereadores e a
UAMPA de que pode, de novo, sentar à Mesa? E nós discutíamos, nesses trinta
dias essa idéia, que está basicamente colocada não pela Ordem de Serviço do Sr.
Prefeito, mas pela Lei Orgânica, Ver.ª Clênia Maranhão. Então, nós, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, que temos, aqui, muitas vezes indicado a defesa
de textos legais da própria Lei Orgânica e da Constituição, achamos que seria
uma contradição aprovarmos uma lei que tem uma visão, que incorpora, na sua
visão, uma proposta completamente diferente daquilo que está previsto na Lei
Orgânica do Município. Portanto, é isso, Srs. Vereadores.
Gostaria de, mais uma vez, reforçar a idéia de que devemos manter o
Veto proposto pelo Executivo. E, agora, sim, zerando essa discussão de índices,
qualificando-a e passando, em primeiro lugar, a decisão de onde irão esses
recursos. Sou contra a destinação de 60% para a compra de áreas, Ver. João Dib,
V. Ex.ª foi Prefeito e sabe muito bem disso. Se forem adquiridas áreas com os
recursos do Fundo, em muito pouco tempo já se sentirá a necessidade de verbas
para obras de infra-estrutura e de urbanização nessas áreas. Então, essa é a
contradição fundamental. A melhor forma de sairmos dela é instituirmos, de
fato, o processo político de discussão. Apelo que faço, inclusive, aos
companheiros da UAMPA. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Está presente, entre nós, o
Secretário Municipal do Planejamento Arquiteto Newton Burmeister, que veio para
tentar esclarecer esse assunto, assim como vários técnicos pertencentes a
Secretarias Municipais do Governo, da Fazenda e do próprio Planejamento. A
última inscrição é do Ver. Milton Zuanazzi que está com a palavra.
O SR. MILTON ZUANAZZI: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu acabei de receber a Ordem de Serviço de nº 009, do Sr. Prefeito
Municipal, nomeando um grupo de trabalho para, num prazo de trinta dias,
elaborar uma proposta de projeto de lei, visando a regulamentar o Fundo
Municipal de Desenvolvimento. Quando da passagem por esta Casa do Projeto do Vereador
Lauro Hagemann, que instituía o Solo Criado em Porto Alegre e as discussões
foram bastante aprofundadas, exaustivas, não por acaso, introduziu-se naquele
conteúdo a proposta de destinação em percentuais para o Fundo Municipal de
Desenvolvimento. Essa proposta vem do movimento comunitário, principalmente, da
UAMPA que realizou um conjunto de seminários e encontros para discuti-la e
houve entendimento da maioria dos Vereadores dessa Casa que a proposta, apesar
de algumas discordâncias em certos aspectos, ela tinha um conteúdo de fundo
político importante, ou seja, de determinar, de fazer com que essa discussão de
formação do fundo não ficasse solta no ar, e também nas discussões de própria
UAMPA com vários Vereadores chegou-se à conclusão daqueles percentuais, também
não por acaso, porque o grande problema da habitação popular na Brasil inteiro
não é concretamente a construção da moradia, e sim, a terra.
Eu conheço, por exemplo, há três ou quatro anos, lá no Jardim das
Estrelas, na Zona Sul onde eles formaram uma cooperativa, os moradores, para
regularizarem todos os seus terrenos, regularizarem aquela área ocupada, e até
hoje esbarraram única e exclusivamente no mesmo problema: falta de
financiamento para aquisição da terra. Tem financiamento para construção da
casa, esse é muito mais fácil, tem na Caixa Federal, no BANRISUL, em qualquer
banco, agora, não há financiamento para aquisição das terras, e é por isso que
o movimento popular coloca os 70%, única e exclusivamente, baseado numa
realidade cotidiana das dificuldades da questão da habitação popular.
Para nós não ficarmos aqui na Câmara só no discurso, só na conversa,
nós precisamos partir para alguma coisa concreta. Concretamente, essa proposta,
que antecede a Ordem de Serviço do Sr. Prefeito Municipal, ela tinha esse
conteúdo e por isso passou aqui na época da discussão do Solo Criado. Ora, essa
Ordem de Serviço nos contenta, contenta a Câmara, contenta o movimento popular,
dá resultado a uma iniciativa feita pelo Prefeito, mas por si só não resolve a questão.
Que bom que a Prefeitura vai partir agora para a elaboração de um Projeto de
Lei, mas por que a Câmara deveria deixar voltar isso ao ar?
É uma iniciativa do Sr. Prefeito e não temos nenhum motivo para duvidar
que ele queira resolver esse problema para não deixar isso aberto. Já que foi
feito este Projeto de Lei, através de Projeto de Lei Complementar, ninguém mais
do que a própria estrutura dos trinta e três Vereadores de Porto Alegre vai
querer aprovar um Projeto mais qualificado. Sabemos as limitações de
engessarmos, em porcentagem, a destinação. Mas se, por acaso, este grupo de
trabalho não chegar a um consenso? E se, por acaso, esse Projeto de Lei
remetido à Câmara não obtiver aprovação? E se, por acaso, o Banco de Terras,
que teria finalidades no futuro, demorar quatro, cinco, seis ou dez anos para
ter o suporte necessário à compra de terras, como fica a questão da habitação
em Porto Alegre, já que os recursos advirão a partir da implantação da Lei?
De nossa parte, tenho certeza de que não haverá nenhum motivo para que
um Projeto instituindo o fundo, que venha a ser apresentando, venha sobrepor
aspectos da Lei do Solo Criado. De forma que a minha posição - e acredito que
deveria ser posição da Casa - é de rejeitarmos esse Veto Parcial, no que concerne
a isto, aplaudido a idéia do Sr. Prefeito que, na data de hoje, está
constituindo o grupo que elaborará o Fundo Municipal de Desenvolvimento e
esperarmos que esse Projeto de Lei venha à Casa com o conteúdo melhor possível.
O Sr. Clovis Ilgenfritz: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Zuanazzi, a argumentação de V. Ex.ª vai por um
caminho que dá razão à derrubada do Veto por um determinado aspecto. Deve-se
não só comprar para construir habitações e atender a essa demanda, mas também
as terras que já existem - em Porto Alegre, há em torno de duzentas e vinte
vilas irregulares das quais muitas estão sendo regularizadas - e esse recurso
seria muito bem aplicado com essa função social que queremos dar, que a UAMPA
quer, se for aplicado também onde já existe. Nós temos exemplos recentes de
soluções dadas onde a terra já existia e o custo não foi baixo para poder fazer
o que foi feito. Algumas transferências, agora a Cai-Cai, houve o problema da
faixa da Sertório, Vila Tripa, que foi para a Wenceslau e assim por diante.
Esse é um argumento que eu gostaria que fosse pensado, porque os 70% para serem
modificados tem que haver um lei complementar que derrube. Não adianta a Lei do
Fundo Municipal do Desenvolvimento revogar as disposições em contrário, porque
ela não tem força, porque ela é uma lei ordinária. Nós estamos querendo evitar
um transtorno maior, o aumento de prazo de discussões internas aqui, para
chegarmos naquilo que todos querem, que é a aplicação imediata desse processo.
Então, o parágrafo que está impedindo que se crie esse situação é o que
precisamos hoje; tirar fora para não criar esse processo e, segundo, fazer uma
lei sem ter que fazer depois uma lei complementar sobre o assunto.
O SR. MILTON ZUANAZZI: Ver. Clovis Ilgenfritz, o
seu aparte enriquece o meu pronunciamento e eu confesso até que votaria
identicamente a V. Ex.ª se tivesse certeza de que as coisas aconteceriam
conforme os prazos que a gente predetermina subjetivamente. Mas o que pode
ocorrer? Pode ocorrer que, primeiro, não haja nem discussão no grupo de
trabalho nomeado pelo Sr. Prefeito. Pode haver interesses contraditórios,
divergentes, entre uma secretaria, entre o DEMHAB, entre outros órgãos. Pode o
projeto de lei estar contraditório, em um segundo momento, com a maioria da
Câmara, porque não necessariamente vai estar de acordo. Pode ocorrer uma demora
extremamente grande nesse processo. Enquanto isso, continuamos com a falta de uma legislação pertinente, com a
falta de instrumento pertinente, porque não vamos esquecer que, juntamente com
o “Solo Criado”, Srs. Vereadores, nós aprovamos no ano passado mais de três
Projetos na área, inclusive a questão do aumento progressivo do IPTU sobre as
áreas urbanas vazias. Ora, isso está fazendo com que esses amplos setores
estejam agora querendo proporcionar ou iniciar projetos de desenvolvimento
urbano. É evidente que vai haver imposto progressivo sobre eles. Eu mesmo já
fui procurado por determinados setores, por determinadas pessoas da zona sul
que possuem essas terras, em função dessas nossas leis, que querem um
acompanhamento até a Prefeitura para começar a negociação de projetos de
urbanização. Ora, se nós demorarmos o ano de 94 para regularizarmos esse fundo,
como é que a gente faz com esse recurso? É um ano perdido! Então, se já
tivermos destinado determinados valores, não há problema, Ver. Clovis,
conhecendo a Câmara e seus trinta e três Vereadores, em passarmos uma lei
complementar. De minha parte, digo de antemão, se essa lei complementar vier a
esse interesse - parece que essa é a vontade de todos, do Sr. Prefeito, da
Administração -, tem aqui meu voto, aberto, puro e simples. O que eu não quero
é que isso fique correndo prazo durante o ano de 94 todo.
O Sr. Clovis Ilgenfritz: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) A Lei do Fundo de Desenvolvimento será apreciada pela
Câmara e nós teremos condições de satisfazer, com emendas, as questões que
ficarem contraditórias.
O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): O Ver. Geraldo de Matos inscreve-se e cede seu
tempo a V. Ex.ª.
O SR. MILTON ZUANAZZI: Agradeço ao Ver. Geraldo de
Matos Filho, mas, realmente, meu pronunciamento está-se encerrando. Concordo
com V. Ex.ª, Ver. Clovis Ilgenfritz. A única questão da qual discordo - e por
isso o meu voto - é no sentido de que essa discussão pode levar um tempo maior
do que o próprio Vereador está pensando ou muito maior do que a própria Ordem
de Serviço do Sr. Prefeito. Estamos mexendo com questões muito profundas nesta
Cidade e isso pode levar a discussões que atrasem o processo. Por isso, meu
parecer de rejeição parcial, mas manifestando-me aqui, já de antemão, como um
Vereador que votará a favor de qualquer projeto de lei complementar que venha
regularizar a decisão desse fundo. A favor, porque isso é para o bem da Cidade,
é uma reivindicação do movimento comunitário popular da Cidade, que terá,
certamente, o meu voto e, acredito, dos companheiros do PDT também. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra, a Ver.ª Clênia Maranhão, para discutir o PLCL nº 28/90.
A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Serei extremamente breve, porque os argumentos que apresentarei já
foram definidos pela Ver.ª Maria do Rosário e pelo Ver. Milton Zuanazzi. O fato
de o Executivo ter-nos enviado uma Ordem de Serviço já demonstra uma
disponibilidade da Prefeitura em negociar essa questão e que a posição que
sinto da maioria do Plenário, pelo menos na avaliação que faço neste momento, é
de que esta Casa vai rejeitar o Veto do Prefeito, não significando uma postura
de intransigência da Casa em discutir essa questão com o Executivo. Acho que a
disposição que os Vereadores estão tendo, neste momento, é de que, mesmo tendo
rejeitado o Veto, as negociações prossigam, e nós possamos fazer um estudo mais
aprofundado, para a adequação do Projeto a curto prazo. Essa é a posição que
quero colocar, no sentido de que ficasse explícita a disponibilidade que nós
teremos nesse Projeto, pois acho que sempre foi esta a posição desta Casa em
relação à negociação de outros projetos anteriores.
Acho importante a derrubada do Veto, para que possamos assegurar toda
uma concepção da discussão que foi traçada nesta Casa, no longo período de
elaboração e discussão do Projeto com as entidades civis, o que não significa,
necessariamente, o fim do processo de discussão, mas pelo contrário, a
manutenção de uma posição coerente com a elaboração do Projeto, e a
flexibilidade que sempre demonstramos de adequação dos projetos à realidade de
Porto Alegre. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O próximo Vereador inscrito
é o Ver. Décio Schauren, que cede seu tempo ao Ver. João Motta, que está com a
palavra.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, vou insistir pela terceira vez, pois me convenço agora, pelo
pronunciamento da Ver.ª Clênia Maranhão, que alguns Vereadores não entenderam
ou acham que o Executivo, de fato, não cumprirá com a palavra. Foi o que o Ver.
Milton Zuanazzi levantou aqui, como uma espécie de suspeição. Ora, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, todos nós conhecemos a seriedade com que o
Prefeito Tarso Genro tem tratado o Poder Legislativo Municipal. Nós não estamos
aqui discutindo qualquer projeto. Acho lamentável que essa discussão se use
desse tipo de argumento para sensibilizar o Plenário. A discussão é muito clara,
temos aqui uma divergência de conteúdo, então, não vamos usar argumentos de que
o Executivo não vai cumprir prazos. Está aqui, está assinado pelo Prefeito
Tarso Genro, e se ele não cumprir esse prazo, aí sim, nós podemos, ao cabo dos
trinta dias, dizer o que quisermos dele.
O que não podemos é, antecipadamente, para fugirmos dessa decisão de
conteúdo, fazermos uma pirueta política, e aí responsabilizarmos o Prefeito por
isso. Aliás, eu diria que, se há uma pessoa nesse processo que não poderá ser
responsabilizada é exatamente o Prefeito, porque ele acabou ontem, no sufoco da
reunião, tendo que se posicionar, politicamente, sobre o assunto, e fez isso
com coragem e transparência, inclusive, assinando documento. A minha
intervenção é para recolocar a discussão onde eu acho que ela deva ficar que é
na questão do conteúdo. O que estamos decidindo nesta votação é se aceitamos o
referencial de 70% para a compra de áreas. Os Vereadores que acham que o
Prefeito não tem palavra, por uma espécie de garantia prévia, vão ficar com
70%. Essa é uma lógica possível. Agora, estamos propondo uma outra hipótese que
envolve a Câmara de Vereadores: enviar projetos de leis que estabeleçam
critérios, ou seja, para onde vão ser destinados esses recursos, e não apenas
para compra de áreas, mas, também, para obras de urbanização, para o Banco de
Terras, para habitação popular e regularização fundiária. Os Vereadores devem
manifestar-se assumindo a sua posição de conteúdo, porque, independente da
posição que o Plenário tomar, nós vamos ter que nos posicionar sobre o assunto.
Estou tentando convencer o Plenário que a melhor hipótese é a prevista na Lei
Orgânica e não os 70% da UAMPA.
A Sra. Clênia Maranhão: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Gostaria de deixar que o conteúdo da minha
intervenção não foi no sentido de não dar credibilidade à palavra do Prefeito,
pelo contrário. Tentei resgatar uma discussão anterior e também colocar a minha
posição sobre a disponibilidade que devemos ter para continuar essa discussão.
O SR. JOÃO MOTTA: Esse é o meu dilema. Nossa
Bancada já fez mais de uma negociação com V. Ex.ª. E as cumprimos, assim como
V. Ex.ª cumpriu a sua parte. Eu não posso deixar um argumento de suspeição
sobre o Prefeito como argumento para impugnar a possibilidade de negociação. Na
verdade, o dilema permanece, ou seja: qual é a posição desse Plenário sobre as
duas opiniões que estão polarizadas? Esse é o problema, Vereadora. Só o Ver.
Zuanazzi se posicionou corajosamente. Gostaria até de fazer este registro. O Ver.
Zuanazzi sustenta os 70% para a questão de áreas. Então, está correta a Ver.ª
Clênia Maranhão.
Segunda posição: eu quero saber, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que
tipo de negociação nós vamos fazer com o Executivo, se a posição é esta. Não há
nada de novo nesta posição; nós sabemos, está na lei. Então, não é preciso
dizer que nós vamos fazer com o Executivo a regulamentação. Não vai haver
negociação, Ver.ª Maria do Rosário e Ver.ª Clênia Maranhão, porque a posição é
70%. Negociação seria se nós fizéssemos juntos. E vocês, Vereadoras e
Vereadores que têm essa posição, deveriam acenar com esta negociação que é o
Governo faz, saindo de uma posição de encaramujamento político nesta discussão
e flexibilizando. Inclusive nem se fixaram índices aqui.
Poderia o Executivo ter colocado 60% aqui, 30% ali, 5% acolá. Não
colocou exatamente para instituir um processo de negociação. Eu não estou vendo
isto. Portanto já estou aqui fazendo uma espécie de recurso preliminar, tendo
em vista a possibilidade de o Plenário mudar o voto. Eu quero saber: os
Vereadores vão negociar ou chegar na Mesa do executivo e dizer: “É 70%.” Isto
não é negociação. É a manutenção desse “status quo” legislativo, que está
mantido.
Por isto eu estou, pela terceira vez, intervindo neste Plenário,
convencido cada vez mais que esta lógica não muda, ela está ensimesmada, está
em volta de si. A alternativa seria corrermos um pouco com esse barco. Eu acho
que alguns Vereadores não estão querendo
isto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Inscreve-se o Ver. João Dib.
Dez minutos para V. Ex.ª.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. O art. 23 da Lei Orgânica diz que: “O Município realizará censo
periódico dos servidores públicos municipais até o dia 15 de março” e o
Executivo Municipal não encaminhou o censo realizado até o dia 15 de março. E é
Lei Orgânica.
A Lei Orgânica, no art. 119 diz que “o Poder Executivo publicará, até o
dia 28, após o término de cada mês, o relatório da execução orçamentária” e o
Executivo não tem feito isto. O art. 125 da Lei Orgânica diz que o Executivo
Municipal deve dar ciência na imprensa, Diário Ofícial pelo menos, de todos os
gastos com publicidade e propaganda, e o Executivo não faz isso corretamente.
Portanto, depois do terceiro pronunciamento do Ver. João Motta, vou
votar pela derrubada do Veto. Não sou obrigado a acreditar que uma resolução do
Prefeito, determinando que um grupo de trabalho estude um problema que afeta a
vida da Cidade, seja aceita. Porque o Prefeito da Cidade, dia 1º de janeiro de
1993, veio aqui e jurou cumprir a Lei Orgânica e não está cumprindo. E para
mim, tanto faz, quem jura tem que cumprir. E não posso entender que quem assina
vá cumprir porque assinou. O juramento é mais importante, a minha palavra é
mais importante que a minha assinatura, sempre pensei assim, sempre afirmei
assim. Isto não significa, absolutamente, que a Câmara não vai estudar o
Projeto de Lei do Prefeito, complementar ou não, que venha trazer a solução
definitiva para o problema. Eu não pretendia falar neste Projeto de Lei, até
porque fui o único que votei contrariamente a ele.
Portanto, estou dizendo que deve ser derrubado o Veto e aguardado o
projeto de lei para que se analise.
O Sr. João Motta: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) O problema é exatamente esse: alguns Vereadores no
Plenário fazem o que V. Ex.ª acaba de fazer, esbravejar contra o Prefeito,
fugindo da discussão do conteúdo. Acabei de falar sobre isto com o Ver. Lauro
Hagemann que acabou de me dizer que vai ser o primeiro a falar o que quero
ouvir neste Plenário. Senão é uma intransigência completamente inconseqüente
que alguns Vereadores estão fazendo à Portaria do Sr. Prefeito, que é
exatamente a seguinte, que o Ver. Lauro Hagemann vai dizer e que quero ouvir
com uma grande alegria, pois outra posição não poderia esperar deste Vereador,
que seria dizer o seguinte, Ver. Pedro Ruas e Ver.ª Maria do Rosário, queremos
fazer outra via de negociação, que é derrubar o Veto e sentar na mesa para
negociar. Mas com isto não estamos dizendo que queremos manter os 70%, é isto
Ver. João Dib. Senão, não é negociação. É uma oposição inconseqüente, que não
tende a encontrar uma saída para um projeto que estamos lutando há vários anos
na Cidade. Não digam isto, pelo amor de Deus, senão não é negociação, é uma
intransigência infantil e absurda que alguns Vereadores estão fazendo e aí
levantam a suspeita de que o Prefeito não irá cumprir a palavra. Usem outro
argumento mais inteligente e não esse e se posicionem: Qual é o tipo de
negociação que os Vereadores querem fazer? Qual o tipo de negociação? Até agora
nós não vimos. Agradeço a gentileza e peço desculpas pela veemência do meu
aparte, com todo respeito a V. Ex.ª.
A Sra. Maria do Rosário: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vou tentar dizer ao Ver. João Motta que não ouvi
deste Plenário nenhuma desconfiança em relação ao Prefeito Tarso Genro e também
não ouvi a determinação de não negociar. Isso que V. Ex.ª disse que o Ver.
Lauro Hagemann irá dizer posteriormente é o sentido da nossa intervenção, de
que nós podemos derrubar o Veto do Prefeito e sentar numa mesa, discutirmos a
partir do Projeto que esta Casa aprovou depois de ampla discussão, Ver. João
Motta, sem nenhuma desconfiança ao Prefeito, assim como temos certeza de que
ele não desconfia da Câmara Municipal. Ele sabe que se dissermos que vamos
negociar, iremos negociar.
O SR. JOÃO DIB: Sou grato aos apartes dos
Vereadores João Motta e Maria do Rosário, mas realmente quem colocou dúvida em
razão da assinatura do Sr. Prefeito fui eu, ninguém no Plenário colocou dúvida
à Ordem de Serviço do Prefeito e ninguém, nem eu, coloca dúvidas que é possível
fazer uma negociação, encontrar uma solução satisfatória. Digo com a
tranqüilidade - e volto a dizer - de quem votou contrariamente ao Projeto, e o
único voto ao contrário.
Então, acho que deve ser feita uma negociação, deve ser estudado
amplamente o problema, até para que não haja supervalorização dos imóveis,
porque a Prefeitura sendo obrigada a gastar 70%, 60%, 40%, ou seja, tenha o
desprazer de pagar mais caro porque não fez um bom Projeto, não fez uma boa
explanação e acho que este Projeto que se propõe será excelente, mas, por
enquanto, fica como está o Projeto, como ele foi aprovado pela quase totalidade
dos Vereadores desta Casa.
E para registro, já que fiz a reclamação do art. 23 da Lei Orgânica, me
informa o eminente representante do Sr. Prefeito Tarso Fernando Genro que hoje
foi publicado no Diário Oficial o censo dos municipários. Eu vou fazer a
leitura do mesmo e depois darei a análise para
ver o que ocorreu. Mas vejam V. Ex.ªs que, mesmo sendo
publicado hoje, foi três dias depois do que determina a Lei Orgânica, mas, de
qualquer forma é um avanço, é uma preocupação da Administração da Prefeitura de
se enquadrar com a Lei Orgânica, o que me faz então acreditar um pouquinho mais
na Resolução de S. Ex.ª, o Sr. Prefeito, em relação ao novo Projeto de Lei que
virá a esta Casa definindo, depois de um debate amplo, tranqüilo, como se
equacionará este problema. Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Giovani
Gregol, que cede seu tempo ao Ver. Clovis Ilgenfritz.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, muito a contragosto eu ocupo pela terceira vez esta tribuna e,
infelizmente, alguns dos Vereadores com os quais gostaria de ter esse dialogo,
essa atenção, não estão aqui agora, e o voto deles é importante. Ver. Zuanazzi,
alguns Vereadores estão no saguão conversando também sobre esse assunto. Mas, o
que nos interessa colocar, agora, acho que é preciso, Ver. Pedro Ruas, Ver.ª
Maria do Rosário, por favor, entender um aspecto: nós estamos querendo, com
decisão política tomada por escrito pelo Prefeito, para esta Casa, resolver o
problema o mais rápido possível.
Esta Casa tem, não vai dizer que não, pelos discursos que estão aí
taquigrafados, uma certa desconfiança de que isso não vai acontecer ou então,
Ver. Pedro Ruas, se V. Ex.ª não pensa assim, não é para V. Ex.ª que estou
falando e nem para outros que possam estar achando. Eu estou querendo dizer que
os discursos deixam isso como se fosse uma manobra de “bom vamos deixar para
depois e aí a gente vê”. Não é! O Prefeito sabe que a Lei do Fundo Municipal de
Desenvolvimento é urgente para ele implementar, uma lei que ele queria e que
foi feita em acordo, permanentemente discutida com o Ver. Lauro Hagemann, que
tem sido um dos paradigmas, o seu gabinete, dessas legislações urbanas, que nós
temos o máximo interesse em resolver.
Veja só, Ver. Pedro Ruas, meus caros colegas Vereadores, que há um
processo enorme entre o que havia antes, entre o que a Lei Orgânica propôs, a
Constituição Nacional propôs, também e a Constituição Estadual por sua vez, e
nós conseguimos, através do voto, da maioria esmagadora dos Vereadores desta
Casa, ao fim do ano passado, elaborando e aprovando leis vindas do Executivo,
ou da própria Casa em acordo com o Executivo, porque algumas seriam de
iniciativa do Executivo, e hoje estamos aqui num detalhe, tendo um processo de
retardamento, infelizmente, porque, ao mesmo tempo em que o Prefeito se propõe,
em trinta dias, mandar um Projeto, discutir amplamente com os setores da
comunidade, conforme a própria Lei prevê, discutindo, aqui, na Câmara, a Ver.ª
Maria do Rosário, ou a Ver.ª Clênia Maranhão ou os próprios Vereadores que
defendem dizer: “não, para aí, isso não é o que a UAMPA queria”; mas, se eu
disser que a Ordem de Serviço do Prefeito é cópia, na íntegra, do que a UAMPA e
o Ver. Lauro Hagemann queriam, o que vou fazer?
Dois ou três trechos desta Resolução são parágrafos que estão na
proposta original do Ver. Lauro Hagemann, que era a proposta do movimento.
Então, nós não queremos ser insistentes, porque passou a ser um processo meio
chato esse aqui, me sinto mal, mas eu não me sentiria bem se não falasse de
novo, porque preciso dar conta para a minha consciência e para o próprio
Governo de que nós estamos aqui querendo dizer que o Governo vai cumprir e isso
é um processo que pode ser cobrado publicamente, pode ser um desgaste enorme
para o Prefeito o fato de ele não cumprir.
Segundo a ordem de serviço, 5% são para investimento para os setores de
proteção ao menor, cultura e patrimônio. Isso aqui foi feito antes, não é uma
coisa feita agora; e o ponto básico, que o Ver. João Motta, eu e outros insistimos,
é que os 70% para aquisição de terra, vão ser um empecilho no desenvolvimento
desse processo. Esse é o único caso; se retirar esse empecilho, todos os outros
processos seriam mais ágeis.
Acho que nós temos esta tarefa, perdoem-me os companheiros, mas acho
que a UAMPA estaria aqui pedindo para nós fazer exatamente isto. Consultem,
façam assembléia com as vilas, para verem se não é isto que eles querem. Se
eles querem casa ou saneamento e casa, se eles querem terra, ou querem terra,
saneamento e casa. As três coisas são importantes. E só terra, pode ser negócio
imobiliário, só terra é a Prefeitura dar dinheiro para os que ficarem
especulando até hoje, o dinheiro fica nas mãos deles, a Prefeitura vai pagar, e
a terra fica parada porque não tem dinheiro para investir na infra-estrutura.
Então, o dinheiro para investimentos em saneamento básico, que a Ver.ª Maria do
Rosário referiu que estão no Orçamento, ótimo, nós queremos mais, porque esse é
o dinheiro mínimo que há, e que hoje são, na sua maior parte, dinheiros que
estamos conseguindo de empréstimos internacionais, que é o Projeto PIMES, etc.,
etc., que tem o GTZ, e outros projetos. Tudo bem. Mas imaginem se agora nós
vamos comprar áreas e depois não vamos poder usá-las. Este é o processo. E eu
acho que nós podíamos então, na derradeira...
O Sr. Pedro Ruas: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Parece-me, digo isto com o maior respeito e atenção
ao seu pronunciamento, que há um equívoco no enfoque da divergência que se tem.
E a divergência que se tem, em primeiro lugar, não é com relação a acreditar ou
não na palavra do Prefeito; ao contrário, não há um motivo para desacreditar da
palavra de S. Ex.ª. Também não é uma simples discussão com relação à prática
das ações que todos nós queremos. É um pouco maior a divergência. A divergência
é no sentido de que se entende que o que é importante realmente é o Banco
conseguir a aquisição de terras, porque o financiamento para obras, para
construções, sempre se conseguirá. Não é, necessariamente, através deste
Projeto, e este Projeto já tem percentuais também para construção. Mas,
financiamento para aquisição de terras, não existe! Em hipótese alguma. Esta é
a nossa alternativa, não há outra. Mas V. Ex.ª tem o mesmo objetivo, o Governo
tem o mesmo objetivo. Apenas o método, que V. Ex.ª e o Governo propõem, é
diferente do que nós imaginamos. Esta é a nossa divergência e não é detalhe de
acreditar ou não. Não é isso, aí diminui a discussão.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Mas há um Projeto, e eu acho
muito bom que isto venha à tona pela sua palavra, e de outros, já colocadas
aqui, de esclarecimento desse aspecto, e nós não colocamos em dúvida. Mas esta
lei, assim como está, não é auto-aplicável, e passa na cabeça de muita gente,
conforme discurso que é feito fora desta Casa, que a lei está pronta e que ela
vai ser aplicada, e que agora vão querer isto e vão querer aquilo. Porque se
colocarmos aqui 70%, está dizendo: vai 70% para comprar terra. Então, passa
para muitas pessoas que isso é um detalhe da lei que permite que ela seja
auto-aplicável. E ela é não é auto-aplicável, ela precisa ser regulamentada,
por um lado, e ter um Projeto de Lei, que está previsto na lei, que é o Projeto
do Fundo Municipal de Desenvolvimento.
A Prefeitura tem uma tradição, não só deste Governo, desde que
fundaram, e, se não me engano, em 1986 ou 1987, no Governo Collares, o Fundo
Municipal de Desenvolvimento Urbano. E a tradição de uso dos recursos, ela
passa pelo nosso crivo, embora a Lei diga bem certinho aonde vai o recurso, ela
passa crivo da Câmara, que eu acho que é fundamental. E nós tivemos amplas
discussões em Orçamentos passados porque alguns Vereadores, inadvertidamente,
queriam por verbas para outras coisas naquele dinheiro do Fundo Municipal de
Desenvolvimento, que foi dinheiro arrecadado com venda de índices. O solo
criado é uma verba de índice moderna, ágil, rápida e permanente. A venda de
índices que existia, que existe ainda, que vai ser modificada por esta Lei,
pela Lei do Fundo, é uma venda que se faz a cada vez que a Prefeitura e esta
Casa autorizam. Então, é o momento de se vender índice. Se estabelece um
processo, abre concorrência, faz licitações etc... e vende o índice. Depois
joga o dinheiro no Fundo e, do Fundo, para as obras sociais, que são
coincidentes com estas que estão sendo feitas, agora, na nossa proposta.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Clovis Ilgenfritz, o
Ver. Pedro Américo Leal cede o seu tempo a V. Ex.ª.
O SR. CLOVIS
ILGENFRITZ: Eu
agradeço.
O Sr. Pedro Américo Leal: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.)
Por que V. Ex.ª acha que é incompatível o Veto com a proposta que nós não
colocamos em descrédito? O Prefeito Tarso Genro é uma personalidade que não
devia ser colocada em dúvida, e não está sendo. Eu pedi ao Ver. Lauro Hagemann,
mas ele não voltou à tribuna, porque esta âncora deve ser explicada, até onde é
irredutivelmente assimilada ou não. É a tal coisa: vamos comprar terra, o que
fazer dessa terra? Existe4m outros recursos que poderemos usar sobre essa
terra, construir para essa gente, que precisa. Nós ficaríamos, aqui, patinando
a manhã inteira, duas correntes sinceras de pensamento. Então, acho que
devíamos deslanchar desta âncora porque é ela que está perturbando.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sou grato pelo aparte de V.
Ex.ª. Nós continuamos dizendo que ninguém está, aqui, vetando ou dizendo que
não é para comprar terra. Possivelmente, num processo de encaminhamento do
F.M.D.U., em vez de 70% seja 60%, como era a proposta original feita pelo
próprio movimento que depois achou que tinha que ser mais. Achamos que isto dá
uma conotação assim: ou compra terra ou não usa dinheiro. Em qualquer negócio
no nosso capitalismo, em qualquer situação financeira tem que se ter
disponibilidade financeira mas tem que saber como negociar e em que momento é
mais oportuno comprar terra. Se dissermos para toda a Cidade de Porto Alegre,
para os vazios urbanos que o dinheiro é só para comprar terra, quem é que vai
vender terra para nós? Vai aumentar o preço, o Ver. Dib levantou este aspecto.
Vamos fazer um leilão de terra para a habitação popular e, se tivermos terra
apropriada, mais barata e que possamos negociar a terra e o investimento
imediato, nós teremos outro tipo de encaminhamento. Não é um problema de
desconfiança, de fato, isto pode ter sido um erro nosso de pensar assim. Não é,
e estamos retirando. Eu não cheguei a dizer isto, mas estou retirando, se for o
caso, até pelo Ver. Motta. Mas, Vereadora, não seja esta uma indisposição que
possa criar ânimos que nos prejudiquem numa votação.
O Sr. Guilherme Barbosa: V. Ex.ª permite um aparte.
(Assentimento do orador.) Sem entrar no mérito das intenções, das intervenções,
quero, se não foi colocado este argumento, gostaria de colocá-lo. Num Projeto
de moradia popular, simplificadamente falando, a terra é 25% de toda a obra; a
terra, a infra-estrutura do investimento, mais a moradia. Se, 70% dos recursos
são locados para a terra, nós vamos comprar terras, não conseguindo construir,
nem urbanizar, é apenas uma questão de bom senso. Se não tivermos uma
distribuição melhor destes recursos, ficaremos comprando terras. Nós precisamos
de recursos para comprar terras, mas também para estabelecer infra-estrutura e
construir as moradias.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Eu, como sou Arquiteto, com
trinta anos de serviço no ramo, sendo apaixonado por esta área, trabalhei em
habitação popular. O problema da terra quase sempre se consegue conduzindo por
negociações. Os empresários que estão se sentindo prejudicados na área “X”,
consigam uma área “Y”, e nós então possamos transportar aquela população para
aquela área em melhores condições. A grande parte das negociações que se fez,
quando eu era Secretário, e depois na gestão de meus sucessores, inclusive o
Nilton Burmeister, são negociações onde a Prefeitura, ou o Poder Público, têm lucros
para o setor social, porque negocia, por exemplo, meio hectare na Avenida
Ipiranga, por sete hectares e meio na zona da grande Cruzeiro, fazendo a Vila
do Barracão. Isso é uma coisa sensacional. Eu não posso entender que o
movimento, hoje, esteja defendendo algo que historicamente estivemos juntos.
Pode ser uma disputa política, mas não é bom para o Município.
A Sra. Maria do Rosário: V. Ex.ª permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Parece que os argumentos começam a se repetir, mas
nós situamos a discussão num ponto de que me parece interessante, que é o
mérito da questão, e não as desconfianças que não existem entre Executivo e
Legislativo, do meu ponto de vista. Agora, podemos ver a questão por outra via:
existem outros recursos, inclusive de financiamento habitacional, como V. Ex.ª
colocou, para o saneamento, e hoje não existe terra, está aí o pessoal do IPE
que completou um ano de ocupação do IPE São Borja. Até hoje não conseguimos
administrar aquele espaço porque temos dificuldades. Há pouco tempo,
conseguimos uma área do Knijnik, o Wenceslau Fontoura está cheio, as ocupações
se proliferam e o pessoal ocupa porque não tem um lugar para ir. Então acho que
também podemos inverter esse raciocínio. Daqui a pouco existirão outras verbas
para a questão do saneamento, da infra-estrutura e não existirão terras para
colocar essas verbas. É preciso uma contínua negociação com setores que detêm a
terra em Porto Alegre, porque o Município não tem como comprar. Pode ser
valiosa a inversão do raciocínio. É interessante que saibamos agora que existe
esse posicionamento e que terra não existe nenhuma. O objetivo desse Projeto
era esse, ou seja, o objetivo da terra. Outros Projetos, outros programas podem
ser voltados para a questão do saneamento e outras questões. Esse é o
raciocínio que estou fazendo sem nenhuma dificuldade, Vereador, de negociar.
Nós poderemos discutir.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Está claro que não existe
por parte do Governo nenhum interesse em não comprar terras. Esse é o objetivo
principal, tanto é que se for regulamentada, conforme a discussão, pode ser que
seja 70% para comprar terra, ou seja, seria a maioria do movimento e esta
Câmara a dizer que só queriam comprar terras. Então, tecnicamente perderemos
porque achamos que até nisso estamos sabendo negociar melhor do que setores que
trabalham com dinheiro e com o setor imobiliário. Veja bem, nós não podemos
anunciar ao comércio, ao setor imobiliário, hoje, que a Prefeitura vai ter
dinheiro para comprar terra e só isso. Todo o mundo vai querer vender, só que o
preço irá lá nas nuvens. Como não temos dinheiro para fazer a negociação de
infra-estrutura, o movimento vai se voltar contra nós e os Vereadores serão os
responsáveis. Por que a Prefeitura compra terra e não resolve o nosso problema
de Casa, de infra-estrutura, que corresponde a 25%, 30% do valor? Mas muitas
vezes nem isso é, porque a terra que estamos conseguindo, na maior parte das
vezes... Existe o exemplo das terras do São Borja e do IPÊ que estamos
resolvendo com negociações e trocas que são altamente difíceis de serem feitas
com o Governo do Estado, com a COHAB, com o DEMAB, com a Caixa Econômica
Federal e etc., etc. Então eu acho que nós temos que chegar à conclusão
Vereador, que poderíamos aceitar o Veto, tirando aquele artigo e derrubar o
artigo aceitando o Veto e nos comprometermos de, juntos com o Movimento e o
Executivo, fazermos uma lei de desenvolvimento, com a maior rapidez possível
para botar em funcionamento o “solo criado”.
Eu acho que respondo a V. Ex.ª, porque, manter na lei um artigo que
engessa o nosso processo subseqüente é o que queremos resolver. É tirar a
barreira que vai atrapalhar a negociação. Porque todas as vezes irão dizer:
não, na lei está escrito isso, então não dá para mudar. E aí não tem negociação
que aconteça. Agora, se não tiver na lei, vai ter negociação, e quem tem a
maioria nesta Casa não tem que ter medo da negociação. A democracia,
felizmente, está prosperando, e nós estamos aqui ajudando a fazer com que ela
seja cada vez mais afirmada pela cidadania brasileira. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em
votação Ver. Lauro Hagemann está com a palavra para encaminhar.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu até me abstive de pedir a um colega que me cedesse seu tempo
para não prolongar mais a discussão e para ouvir os argumentos aqui expostos, e
que foram muito ricos de uma maneira geral. Mas eu gostaria de dizer,
inicialmente, com toda a clareza, que não há absoluta desconfiança com relação
à palavra do Prefeito. Eu acho que as coisas foram mal colocadas esta manhã.
Parece que se nós rejeitarmos o Veto do Prefeito, nós estaremos dando a ele um
voto de desconfiança. Não se trata disso. A discussão tem que passar por outro
caminho. Colocou-se com muita propriedade o parágrafo 2º, do art. 10, que foi
objeto do veto. Eu não gostaria de me colocar no centro dessa discussão,
absolutamente. Estou longe disso. Fui o proponente da Lei do Solo Criado, ela
foi aprovada pela maioria da Casa. Hoje, é uma lei Câmara Municipal de Porto
Alegre. A Câmara entendeu que deveria aprovar a proposta, com todas as
modificações que foram feitas. Estou disposto a revisar os 70% de terras
públicas, contemplados no inciso I, letra “a”, do parágrafo 2º.
Eu gostaria de dizer uma coisa muito singela aos Senhores Vereadores.
Esses 70% não são nenhum absurdo, porque não se trata de comprar terra apenas
para localizar novos conjuntos de moradia, construção de novas casas; se trata
de recursos para abrir novas vias na Cidade, que são absolutamente necessárias.
São recursos para compra de terrenos para escolas, para praças. Volta e meia,
vai-se ter que comprar área já urbanizada por um preço muito caro. Eu gostaria
que entendessem que, com o meu projeto, não estou preconizando uma desenfreada
especulação imobiliária nesta Cidade. Não tenho nenhuma terra para vender, a
não ser aquela que tenho embaixo das unhas, e que é muito pouca.
Então, Senhores Vereadores, vamos colocar as coisas nos seus termos, eu
respeito e elogio o empenho do Ver. Motta, meu fraternal amigo, companheiro de
Bancada, do Ver. Clovis, de todos que passaram aqui, tentando mostrar que a
rejeição do veto do Senhor Prefeito significa um acinte à posição da
Prefeitura. Não se trata disso, vamos colocar ordem nas coisas, nós podemos
rejeitar o Veto e aceitar participar da negociação em torno da revisão desse
conceito dos 70%, 25%, 5%. A questão legal não é tão complicada. Essa Casa já
deu demonstração de sobra. Quando quer revisar alguma coisa, revisa. Se for necessária
uma Lei Complementar para revogar o parágrafo 2º, do art. 10, da Lei
Complementar que criou o solo criado,
eu subscrevo em primeiro lugar.
Podemos fazer isso. A Casa tem esse direito. Não de desconfiar do
Prefeito, mas de ficar entre duas alternativas. E não é nem o Prefeito que vai
dizer se essa Comissão vai dirigir assim ou assado, ele não tem nem essa
condição. Sabemos os interesses que se gestam por debaixo dessas comissões.
Não quero pôr desconfiança prévia em coisa alguma, mas acho, com toda
tranqüilidade, que podemos rejeitar o Veto do Sr. Prefeito, e não, vai causar
nenhum abalo político, nenhum abalo moral. Porque a Casa se compromete na
segunda-feira, sentar em torno de uma Mesa com essas entidades que estão
propostas, para discutirmos essas questões, ou, rediscutirmos isso. E vem para
cá, sob a forma de uma lei, revogamos o parágrafo 2º do artigo 10 da Lei do
Solo Criado, com toda tranqüilidade, porque remédios legais esta Casa tem, não
é preciso acenar-se com uma catástrofe, e nem com aquela parte final da Bíblia,
o Apocalipse, para resolvermos esta questão.
Era isso que eu queria deixar bem claro e dizer aos companheiros
Vereadores que cada um votará de acordo com a consciência de cada um. Acompanho
esse grupo que constituiu, junto comigo, uma determinada tendência política de
se construir uma nova Cidade, e que foi expressa neste Projeto. Gostaríamos de
continuar juntos, pois há muita coisa por fazer, e ainda temos três anos de
situação nesta Casa, quem sabe mais, os que forem reeleitos, para continuarmos
esse trabalho. A Cidade não se exauriu nesse balisamento, ela recém começou,
porque a desarrumação é de décadas e a rearrumação vai demorar, também, algum
tempo. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Nereu
D’Ávila. Ausente. Com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt para encaminhar o PLCL
nº 28/90.
O SR. ANTONIO HOLFELDT: Sr. Presidente e Sr.
Vereadores. Aguardei a discussão com tranqüilidade, porque com tranqüilidade
dei um parecer pelo Veto em relação a este artigo. Porque com a mesma
tranqüilidade entendo que a quebra deste veto, a derrubada eventual deste Veto
vai provocar um equívoco triste para essa Cidade. De um lado, nós temos a
perspectiva da necessidade de aquisição de novas glebas, isso é inequívoco; de
outro lado, nós temos a necessidade de legalizar, e mais do que legalizar, de
criar infra-estrutura eficiente para centenas de glebas existentes,
clandestinas, irregulares, ilegais e por aí afora.
Evidentemente, que entre uma e outra situação a segunda exige muito
mais dinheiro do que a primeira. Em segundo lugar, pela primeira vez, eu ouvi,
num aparte, parece que foi o Ver. Guilherme Barbosa, o ponto que a mim me
preocupa - eu conversava há pouco com os Vereadores João Dib e Jair Soares -
colocado em lei esse tipo de coisa, nós vamos inflacionar o terreno, o metro
quadrado nessa Cidade, e isso vai inviabilizar a concretização desse Projeto. É
dar de “mão-beijada” para especulador imobiliário. Se é isso que o movimento
UAMPA quer, que o faça! Nem sempre movimento popular tem razão! Às vezes se
equivoca, não é técnico. A discussão, aqui, é técnica! É de conhecer forças
políticas que estão em jogo. Aliás, é o que nós estamos conhecendo,
infelizmente: um grupo de pessoas que resolve ser dono de uma idéia, de um
projeto, e aí tenta tratorar a Câmara. Pois tratore, a mim não vai tratorar. Eu
já fui tratorado várias vezes na Lei Orgânica, às vezes dentro do Partido dos
Trabalhadores, foi um dos motivos pelos quais eu saí. Mas vou continuar votando
com a minha coerência e com a minha consciência dentro de uma visão crítica
desse tipo de problema.
Nós temos mais de trezentas mil pessoas com problemas nesta Cidade. Não
é só comprando terra que nós vamos resolver isso. É criando a infra-estrutura
para colocar nesta terra qualidade de vida, com a infra-estrutura necessária!
Nós sabemos o quão difícil é negociar dinheiro para essa infra-estrutura, o
quão complicado é esse tipo de coisa. E vai piorar, meus companheiros da UAMPA
e do Movimento Popular, porque eu não vejo muita saída no Governo Federal. Mas,
a intransigência que, às vezes, eu ouço aqui, lembra-me muito a intransigência
que se tem nesse momento com a URV, em uma tentativa do Governo Federal de
resolver esse problema. É a mesma intransigência! E, essa intransigência, eu
acho que pode inviabilizar a coisa.
Nós vamos votar, vai ficar registrado, a votação é nominal, o meu
parecer está assinado, a posição de cada Vereador vai ficar, aqui, bem posta.
Daqui a dez meses, eu gostaria de me reencontrar com todo o mundo, de novo, e
saber como é que se resolveu isso. Se tinha razão quem defendeu o Veto, ou se
tinha razão quem resolveu derrubar o Veto, apenas para medir forças. Se nós
vamos resolver o problema dessas vilas e dessas pessoas que precisam ter um
lugar onde morar, mas com qualidade e dignidade, ou se nós vamos apenas fazer
um lero-lero e daqui a quarenta e cinco dias nós vamos ter que voltar para cá
para resolver o problema.
Cada Vereador tem a sua posição, cada Bancada tem a sua posição. Agora,
eu quero chamar atenção desses dois pontos; nós vamos gerar um problema sério
de especulação imobiliária com esta situação, e isso preocupa muito. Eu não
gosto de dar dinheiro para especulador imobiliário. Nunca fiz isso e acho que
tem uma história nesta Casa bem posta nessa situação. Lembraria as nossas
disputas em torno do Plano Diretor, em 86. A segunda questão é que não me
preocupa a questão de palavra de Prefeito ou coisa parecida. Nós temos
autonomia absoluta em relação a isto aqui. É a responsabilidade do Prefeito do
lado de lá, a nossa responsabilidade do lado da cá.
Agora, me preocupa, sim, que a gente não consiga aprofundar uma
discussão e apenas se meça forças, e quem vai pagar o pato é quem não está
aqui, quem não conseguiu interferir neste debate, mas é quem está precisando
resolver a sua situação. Eu quero ratificar, assinando em baixo, olhando frente
a frente a cada um dos companheiros que estão aqui do Movimento Popular, dos
companheiros Vereadores, respeitando o voto e a posição de cada um. Eu acho que
é um equívoco essa idéia de se derrubar o Veto, não porque é um Veto do PT, ou
do Prefeito Tarso Genro, mas porque não vai resolver o nosso problema. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra o Ver. Pedro Américo Leal para encaminhar o PLCL nº 28/90.
O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Ex.mo Sr.
Presidente e Srs. Vereadores. Eu preciso de muito pouco tempo. Já fiz os
apartes que desejava e esse matéria foi exaustivamente debatida aqui. Eu só
quero dizer que tenho muita honra e muito prazer em pertencer ao elenco de V.
Ex.ªs. Não concordo totalmente com o pronunciamento do ilustre Ver.
Antonio Hohlfeldt. Acho que estamos dando uma demonstração rara, no País, hoje,
de idéias que não são compráveis. Que bonito isso! Estamos aqui procurando
decidir com acerto para o bem de uma comunidade que não tem representatividade
para pedir e clamar por seus anseios. Isso é muito bonito. É claro, essa âncora
de 70% é, na verdade, discutível. Até onde há dificuldade de se comprar terras?
A política de aquisição de terras será viável através dessa verba que vamos
possibilitar, e além dela jamais poderíamos ter outra alternativa. Ou se
comprando terras com disse o ilustre Ver. João Dib, podemos inflacionar para
esses abutres que ficam espreitando tudo que acontece para se lançarem
avidamente em busca dos seus proveitos monetários? Ou estamos diante de um
impasse: compramos e vamos fazer o que, se não podemos construir? Pois as
verbas que poderíamos tirar de outros recantos do Orçamento do município já são
escassas.
Então, hoje, é uma manhã rica e muito enaltecedora para o elenco dos 33
Vereadores, quando contemplamos um Congresso Nacional sob suspeita. A Câmara
está aqui cansada intelectualmente, não interessada para tomar uma direção
certa. Não por ela, mas pelo conjunto humano que aqui representa.
Não poderia deixar de vir à tribuna proclamar o que sinto, Sr.
Presidente, sinto-me muito bem em pertencer a um elenco onde até um Governador
do Estado temos aqui. E isso não significa apenas destaque, pois existem até
governadores cassados, mas não é o caso do ilustre ex-governador Jair Soares,
que resplandece.
Então, a votação que faremos não - concordo com o Ver. Antonio
Hohlfeldt - não encerra absolutamente, nenhuma suspeita sob algum Vereador. Não
notei e se notasse não subia à tribuna. Fiquei muito a vontade, porque estou
vendo que todos estão racionando, perguntando, indagando para lograrem votar
bem. Cheguei ao ponto de quase intimar o autor do Projeto, Ver. Lauro Hagemann.
O Ver. Dib que não votou no Projeto, veio aqui dar sua contribuição. Que bonito
isto!
Então, vim refugar colocação feita - se pelo menos eu entendi assim -
do inteligente Ver. Antonio Hohlfeldt, nesta Casa, hoje pela manhã, não houve,
absolutamente, qualquer deslize. Muito pelo contrário, houve uma magnífica
demonstração. Eu me sinto muito honrado como político, chefe de família, como
homem público de pertencer ao elenco do V. Ex.ªs Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Para
encaminhar, o Ver. Jocelin Azambuja, pelo PTB.
O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. A questão do solo, da falta de espaços para acomodar os cidadãos
que têm o direito de viver sob um teto, de ter a sua casa própria, de ter uma
habitação digna, passa, justamente, pela responsabilidade que temos que ter
todos nós, Vereadores, de buscar soluções que contemplem o interesse da
maioria. Na próxima sexta-feira, dia 25, estará presente aqui o Diretor do
DEMHAB, Dr. Hélio Corbellini, para discutir a questão do pessoal da Vila
Cai-Cai, do assentamento deles lá, naquele terreno maravilhoso, uma área das
mias nobres de porto Alegre, onde estava prevista, inicialmente, a construção
de trezentas e vinte casas, o que é um crime, um absurdo. Esse é um terreno que
pode acomodar no mínimo dez mil famílias em edifícios residenciais.
Eu já disse aqui que é só andarmos por Porto Alegre e veremos a
quantidade de edifícios existentes e as pessoas morando neles. Um edifício ao
lado do outro, isso nas áreas mais ricas da Cidade, nas áreas de classe média e
nas áreas pobres. Agora, eu vejo uma opção para construírem casas para as
pessoas. Estive lá discutindo com os moradores da região: “vem cá, qual é tua
opção? O que é que tu queres? Um terreninho de 6 x 20, ou morar num edifício em
que tu possas dar o direito a outros irmãos teus de terem habitação também, e
tu não seres um privilegiado em ficar num terreninho, com o teu jardim, a tua
hortinha e tudo o mais? Qual a preferência? Tu queres o desfruto, para a tua
família, do teu terreno ou tu veres outros irmãos teus também com o direito de
habitação?” Até convoco a UAMPA e todas as entidades que lutam pelo direito à
habitação, para se mobilizarem nesse sentido.
Nós temos que dar teto para todo o mundo. Não é um terreninho, uma
casinha bonitinha ou um sobrado. Não é isso o que nós queremos. O que as
pessoas querem é um teto. Tanto faz se o teto for uma casa ou um edifício. Se
num terreno podemos localizar duas mil famílias, por que vamos localizar
trezentas ou quinhentas famílias? No mínimo é imoral. Eu, como cidadão, não
posso aceitar.
Hoje, aqui, se quer assegurar a compra de áreas. Mas o problema não é
só ter áreas. Que infra-estrutura vai dar para a área? Que condições de
habitação? Então, vamos pegar uma área boa, grande, e colocar ali cinqüenta
famílias, cem famílias, e o porto-alegrense continua sem habitação. Isso é um
raciocínio, no mínimo, totalmente ilógico. Não adianta ficar brigando numa
ponta, se não temos a outra ponta. Temos a terra e fazemos o que com a terra?
Colocar trezentos em cima de uma área fantástica daquelas? Ora, é
evidentemente que não. Vamos ter que
nos mobilizar, todos os Partidos desta Casa, todos os Vereadores, todo o poder
político de Porto Alegre para acabar com esse tipo de coisa. Lembro-me de que o
Ver. João Dib foi um dos que brigou, eu assisti a essa briga, quando da
instalação da Planetário. O senhor brigou, eu aplaudi a sua luta, sem estar
aqui dentro, porque acho inadmissível ter-se construído ali um grupo de casas,
quando se poderia ter colocado alguns edifícios, um maior número de famílias.
Diversos amigos meus moravam em prédios alugados ali perto, não tinham
dinheiro para comprar um imóvel, e o pessoal ganhou um sobrado bonito. Ótimo
para o pessoal que ganhou, mas ruim para os demais que ficaram sem teto. Temos
que nos adequar à realidade que estamos vivendo. Por isso, o PTB vai votar
manutenção do Veto. Queremos que haja o equilíbrio, vamos discutir com o
Prefeito de Porto Alegre, com a Administração de Porto Alegre, uma posição no
sentido de viabilizar o assentamento, não de meia dúzia de pessoas, mas de
milhares que estão sem teto e são responsabilidade de todos nós. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: A
palavra com o Ver. Nereu D’Ávila, para encaminhar o PLCL nº 28/90.
O SR. NEREU D’ÁVILA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, efetivamente a importância do Projeto quando passou por esta Casa
se traduziu em discussão de grande monta. Naquela ocasião nós discutíamos o
Projeto, e eu pessoalmente fui radicalmente contrário, mas é evidente que a
Casa, entendendo diferente o Projeto, foi à sanção do Sr. Prefeito e veio
vetado em parte. Mesmo com o argumento do PT que trouxe uma Ordem de Serviço,
fica claro que esta parte é exatamente aquela que faz a destinação específica
da verba, então ela se traduz num índice que está sendo colocado em discussão.
Até poder-se-ia admitir que os índices fossem, novamente, subdivididos.
Ocorre que a comissão que o Sr. Prefeito determina e com um dos itens
dizendo que poderá vir à Casa um novo projeto, instrui a possibilidade que o
Ver. Clovis Ilgenfritz achou que é complicada, mas não é. Nós entendemos que
não seja, porque se fosse excludente, ou seja, se o Veto viesse a ser
rejeitado, como é a posição do PDT, não elidir a possibilidade de vir esse
projeto, que está, inclusive, inserido nas disposições da Ordem de Serviço do
Prefeito, então, por uma questão de coerência da Bancada, e aí sou obrigado a
render-me porque, quando era o todo, eu argumentei, fui perdedor. Agora, diante
de que o principal já está aprovado e se traduz num acessório que até pode ser
transformado, a própria Bancada do PT não exclui esta possibilidade, mesmo que
por projeto de lei, futuramente, o que se discute é o acessório.
Por isso, eu, que tinha uma posição contrária ao Projeto não encontrei
condições, de, mais uma vez, sustentar contra a minha própria Bancada como fiz
naquela ocasião. Como Líder da Bancada encaminho contrário ao Veto e o PDT vai
sustentar essa posição pelos argumentos expedidos aqui, longamente e brilhantemente,
por aqueles que entendem que se deve derrubar o Veto Parcial, sem excluir a
possibilidade de até corrigir, porque eu pessoalmente acho que os 70% são uma
cifra um pouco alta, que se poderia subdividir com as demais. Há unanimidade na
Casa de que os investimentos são no teor de 25%. Então, não traria prejuízo,
porque pode ser ainda ressalvado, e a possibilidade vem da própria Ordem de
Serviço, quando além de criar a Comissão ainda persegue a possibilidade de vir
um projeto para cá, ainda poder-se-ia, nesse teor, corrigir o que, porventura,
teria que ser corrigido. Nesse sentido, a Bancada do PDT vai votar pela
rejeição do Veto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminha pela Bancada do PC
do B, a Ver.ª Maria do Rosário.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, parece-me que tivemos uma manhã bastante proveitosa de debates
acerca da questão da terra. Essa Casa tem-se notabilizado por conseguir
discutir com amplos segmentos da sociedade as saídas, as propostas que eles têm
a fazer sobre as questões mais importantes do nosso cotidiano e que viabilizam
uma cidade mais justa, a chamada cidade para todos, que deve ser mais do que um
“slogan”, mas uma preocupação constante. Parece-me que o Sr. Prefeito Municipal
com a Ordem de Serviço nº 9 tem uma preocupação de ouvir a sociedade. Ele
considera exatamente o que se preocupa o art. 12, dispondo que a regulamentação
será discutida em conjunto com os representantes diversos da sociedade civil,
trabalhadores, profissionais, empresários e moradores. Mas, na determinação
dessa Ordem de Serviço, quando compõe uma Comissão de Trabalho para trabalhar a
questão executiva da regulamentação do Fundo Municipal de Desenvolvimento,
propõe uma discussão interna dos diversos órgãos da Prefeitura. Acho que esse é
um limite aqui colocado.
Essa Comissão, Ver. João Motta, que o Sr. Prefeito propõe pode ser
considerada um avanço, mas é uma comissão interna da Administração Municipal.
Não existe na proposta nenhuma participação da sociedade. A Secretaria
Municipal da Fazenda, a Secretaria do Governo, a Secretaria do Planejamento,
Procuradoria-Geral e DEMHAB são todos órgãos do Governo e os moradores,
representados através das suas entidades, os empresários, os trabalhadores e
profissionais de modo geral não estão contemplados na composição da comissão. É
lamentável que isto esteja acontecendo. Penso que podemos discutir mais com o
Sr. Prefeito Municipal essa comissão, para que a Prefeitura possa discuti-la
não só com a Câmara Municipal mas com a sociedade essa questão do Fundo
Municipal de Desenvolvimento. É preciso mudar isso que não está de acordo com a
intenção do F.M.D. e com a sua origem, que é popular. Mas, para fazer isto,
temos que manter a posição da Câmara Municipal e rejeitar o Veto imposto pelo
Sr. Prefeito.
Na discussão que temos estabelecido com os moradores ficou claro que
este Fundo pode ser uma das poucas alternativas para se resolver o problema da
terra; temos outras alternativas que a Prefeitura tem sabido utilizar para o
problema do saneamento.
Quando legislamos sobre essa matéria, a Câmara Municipal de Porto
Alegre não deixou de fora a questão do saneamento, e destinou 25% dos recursos
do Fundo para a solução deste problema, obras viárias e urbanização. Parece-me
que, para a Prefeitura mudar essa comissão na sua composição, para que esta
represente efetivamente a sociedade na sua pluralidade, devemos rejeitar o Veto
e estabelecer um processo de negociação. Porque afirmar que quer negociar e
apresentar essa comissão em que apenas um terá voz e participação não é
viabilizar a negociação. A Bancada do Governo falou em negociação durante todo
o tempo, mas apresentou uma comissão de que só o governo faz parte. Então, eu
acho que aqui não está uma proposta de negociação. Está uma outra proposta que
não escuta a sociedade. Aí a Câmara vai voltar na sua determinação por esta
proposta aqui? Ora, companheiros, eu tenho profundo respeito pela
Administração, pelo Prefeito Tarso Genro, tenho certeza de que estudando melhor
a questão ele vai-se dar conta de que se a sociedade não tem possibilidade de
viabilizar qualquer modificação. Era isso. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. JOÃO MOTTA (Questão de
Ordem): Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, eu mais uma vez vou sair aqui na defesa do
Prefeito.
O SR.
PRESIDENTE: Vereador,
isso não é uma Questão de Ordem.
O SR. JOÃO MOTTA: Não é uma Questão de Ordem,
mas, Vereador, tem um erro aqui no Plenário que é a Ordem de Serviço nº 009,
que é uma Ordem de Serviço interna, portanto o Prefeito por lei está impedido
de nomear entidades externas ao Governo. Este esclarecimento eu acho justo que
se faça em Plenário.
O SR.
PRESIDENTE: Para
encaminhar, o Ver. Luiz Negrinho.
O SR. LUIZ NEGRINHO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, eu estava atentamente observando e ouvindo todos os pronunciamentos
feitos daqui desta tribuna e eu quero apenas fazer um pequeno relato pelo
conhecimento que tenho. Realmente, dentre todos esses pronunciamentos, do Ver.
Antonio Hohlfeldt e do Ver. Jocelin Azambuja, são aqueles com que eu mais me
identificaria para dizer que realmente o problema não é totalmente da terra. O
problema, e cito como exemplo a Grande Cruzeiro, onde nasci, criei-me e vivo
até hoje, são trinta e duas vilas, vinte e oito são irregulares e existe a
terra. Então, eu sou daquela opinião e ninguém, acredito, que tem esse
problema, que conhece realmente esse situação, porque convivo diariamente com
esse problema, não poderia deixar de fazer esse pronunciamento, no sentido de
que não podemos deixar 70% desse volume de recursos para a aquisição de terra.
O problema está também no saneamento. Se pegarmos todos Orçamentos
Participativos de todas as regiões da Cidade, verificaremos que o problema
número um é o saneamento. Temos a questão da regularização fundiária.
Portanto, faria um apelo àqueles que ainda não têm uma posição e
pediria escusas ao Ver. Lauro Hagemann, que tem sido o membro da Comissão pelo
qual tenho procurado me conduzir, porque é o Vereador que realmente conhece o
problema, mas eu necessitava expressar minha opinião de que existem coisas mais
importantes dentro de nossa Cidade, que também precisam ser resolvidas. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra, o Ver. Clovis Ilgenfritz, para encaminhar o PLCL nº 20/98.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Voltei à tribuna, porque gostaria de esclarecer uma questão que não
foi aceita com Questão de Ordem. O Prefeito Municipal não tem, legalmente,
condições de nomear comissões externas. Penso que a Ver.ª Maria do Rosário
acabou de dizer que não tem argumentos contra proposta. Ela abandonou os
conteúdos e resolveu dizer que a população não estaria representada. O Sr.
Prefeito tem é que fazer a sua parte e respeitar a participação comunitária
como tem sido demonstrado.
Por outro lado, eu queria dizer ao Ver. Luiz Negrinho que eu considero
seu argumento absolutamente correto, com um significado de tradição de quem
trabalha e conhece aquela área. A Grande Cruzeiro tem como seu grande problema
a regularização. Conseguimos, com a participação da Grande Cruzeiro, com a
participação do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal, conseguimos uma
parte do Programa, que é a Vila Tronco. Gostaria de retomar essa discussão,
Ver. Luiz Negrinho. Existe uma idéia que começamos a emtabular em 1989 com a
primeira Divisão de Levantamento Aerofotogramétrico, que tem, aproximadamente,
18ha naquela área e estaria interessada em trocá-la por uma outra área bem fora
da Cidade, para que a Prefeitura pudesse executar ali milhares de habitações. A
área que viria em troca seria nas imediações da Restinga, ou em outro lugar de
Porto Alegre. Isso é que é dar solução ao problema, e ali precisa investimento,
infra-estrutura para viabilizar as vinte e oito vilas. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encerrados os encaminhamentos. Em votação. (Após a
chamada.) REJEITADO o PLCL nº 28/90,
em sua parte vetada, por 13 votos SIM
e 16 votos NÃO. Mantido, portanto, o
Veto Parcial a ele aposto.
PROC. 0873/93 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº
30/93, do
Ver. Jocelin Azambuja, que altera a redação da Lei número 5548, de 28.12.84,
alterada pela Lei nº 6431, de 03.08.89. (Passagens Escolares)
Pareceres
- da CCJ, Relator Ver. Elói Guimarães: pela
aprovação;
- da CUTHAB, Relator Ver. Lauro Hagemann:
pela rejeição;
- da CEC, Relator Ver. Geraldo de Matos
Filho: pela aprovação.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão. (Pausa.)
Encerrada a discussão.
Requerimento, de autoria do Ver. Jocelin Azambuja, solicitando seja o
PLL nº 30/93 seja adiado em sua votação
por uma Sessão.
Em votação. (Pausa.) Os Srs.
Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
(Obs.: Foram aprovados os demais Requerimentos constantes na Ata.)
Passamos ao período de
Com a palavra o Ver. José Gomes. Ausente. Ver. João Bosco. Cinco
minutos para V. Ex.ª, sem apartes.
O SR. JOÃO BOSCO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Gostaria que o Ver. Jocelin Azambuja, do PTB, me ouvisse com
atenção, não porque nós tivemos, nessa campanha de 92, além de partidos
diferentes, posições diferentes em relação ao CIEP Esportivo do Bairro Menino
Deus, ali no Centro Estadual de Treinamento Esportivo. Foi uma dificuldade
muito grande: a comunidade era contrária à construção daquele espaço. E o
Vereador, então candidato, liderava a sua comunidade como morador do Bairro;
aliás, uma defesa legítima. Depois de eleição, o Vereador eleito, eu,
não-eleito, fui lá defender a construção, o Vereador gritou para mim: “Olha, terminou
a campanha política”. Mas, ontem, eu tive a oportunidade de assistir à
inauguração, Vereador, e senti a sua falta lá. Porque o CIEP Esportivo, onde
vai funcionar uma máquina de fazer atletas, para mil alunos que vão se
alimentar, que vão ter a sua educação, que vão ter professores a sua disposição
para que possam ser orientados no segmento esportivo que quiserem seguir, foi
um grande achado. Eu não entendi na época e não entendo agora, mas entendo a
sua briga com a Secretária Neuza Canabarro e não entro nesse mérito, porque o
Senhor em as razões dela.
É que este tipo de educação é uma idéia do trabalhismo. V. Ex.ª era do
PTB, é o trabalhismo que busca uma educação de turno integral.
Esta obra foi inaugurada com a presença de grandes craques do passado,
uma homenagem ao Mané Garrincha. Presente o grande goleiro da Seleção
Brasileira, o Gilmar; Elza Soares, Alcindo, e outros ex-atletas. Estranhei o
Senhor não estar presente, porque é uma obra que vem para engrandecer o Bairro
Menino Deus, uma obra que vem para auxiliar as crianças carentes, que precisam.
Lembro aquele debate em que várias senhoras vieram conversar, dizendo
que não poderiam abrir este espaço, colocar no Menino Deus, um bairro nobre,
crianças carentes, crianças de rua de Porto Alegre. E eu fiz um discurso na
defesa do CIEP Esportivo, sobre as crianças do Bairro Menino Deus. Lembro que
falei dos nossos filhos, dizendo que podemos pagar SOGIPA, União, outros clubes
para que eles possam freqüentar.
Essa obra grandiosa, o CIEP Esportivo, gostaria que o amigo se juntasse
a essa idéia, passasse a defendê-la, porque é uma idéia que vem ao encontro de
pessoas que necessitam de orientação psicológica, de educação, alimentação,
pessoas que vão ter o seu espaço, pois não podem pagar uma escolinha de futebol,
de vôlei, que não podem freqüentar os clubes que nós, felizmente, podemos dar
aos nossos filhos.
É uma obra meritória, a comunidade não perdeu o seu espaço, continua
tendo lá seu espaço, participando. Inclusive, na época, antes da campanha de
92, a presidente da associação espalhou que a Secretária Neuza Canabarro estava
lá, com tratores derrubando o CETE para construir o CIEP e hoje se vê que eram
apenas aspectos políticos. E V. Ex.ª comprova que a comunidade está usando o
espaço como usava antigamente. Só que o CIEP Esportivo veio somar, veio
qualificar, veio apresentar outras possibilidades, outras alternativas para as
pessoas carentes.
Eu respeito o seu ponto de vista contrário, e acho até que V. Ex.ª é
mais contrário a esta obra em função da sua briga pessoal com a Secretária, mas
acho que o nobre Vereador entende o cunho social que tem este CIEP Esportivo no
Bairro Menino Deus. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Liderança
com o PC do B, Ver.ª Maria do Rosário.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Quero ocupar este tempo para discutir com os Senhores a questão da
carteira de passagem escolar e as dificuldades que os estudantes estão
encontrando. Esta semana nós tivemos a presença do Presidente da UMESPA, nesta
Casa, denunciando uma série de dificuldades e para nós fica claro a importância
de se fiscalizar ao máximo a carteira de estudante, viabilizando o pronto
acesso dos estudantes a este seus direitos.
Nós recebemos ontem estudantes do Colégio Protásio Alves e do Mesquita,
grêmios estudantis que optaram em fazer as carteiras estudantis no âmbito do
grêmio de estudantes. O que é um avanço muito importante e, de minha parte, eu
considero extremamente importante que os grêmios estudantis se articulem, se
organizem com a capacidade de representar os estudantes de sua escola,
plenamente, inclusive fazendo a carteira de estudante em parceria ou não com a
UMESPA, mas esta organização dentro das escolas eu acho fundamental. Esses
grêmios chegaram ao grau de maturidade de elaborar a carteira estudantil,
fornecê-la dentro da escola para os estudantes regularmente matriculados, o que
facilita enormemente a fiscalização que a SMT pode desenvolver em relação aos
usuários da carteira escolar.
No entanto, os grêmios estudantis de Porto Alegre optaram de colocar na
carteira o seu nome, Grêmio Estudantil Protásio Alves, e um slogan que utilizam, assim como a
Administração Municipal utiliza os seus slogans,
os seus dizeres abaixo de “Prefeitura Municipal de Porto Alegre”,
“Administração Popular”, primeiro slogan;
“Mais Cidade, Mais Cidadania”, segundo slogan,
da forma com que pensa representar melhor os interesses da Cidade e representar
os cidadãos porto-alegrenses. Os grêmios estudantis optaram por um slogan que pensam ser o melhor e não nos
cabe julgar: “UMESPA Democrática” e, no entanto, o que acontece? A SMT devolve
mais de duzentas carteiras dessas escolas porque os grêmios estudantis querem
usar o slogan e não podem usar. Me
parece que isso é um absurdo e nós queremos que a Secretaria Municipal dos
Transportes se pronuncie imediatamente e resolva isso, que é extremamente
irregular, que não fornecer a carteira de estudante para quem tem direito, está
regularmente matriculado na escola, e garantir o direito de expressão do grêmio
estudantil nesse espaço da carteira que é reservado aos grêmios estudantis,
digam eles o que quiserem. Nós não podemos interferir! A SMT não pode
interferir no slogan do grêmio
estudantil e não pode prender a carteira estudantil, porque é um direito do
estudante e aí nos passam pela cabaça milhares de coisas, como por exemplo,
qual o interesse de prender por mais dez dias, uma semana, a carteira de
estudante, na Secretaria Municipal dos Transportes, quando duzentos, trezentos
estudantes dessas escolas vão ter que pagar a passagem integral. Isso é
completamente irregular.
As dificuldades todas para se encontrar a carteira, para se receber a
carteira, que neste ano foram estabelecidas pela Secretaria com o objetivo de
maior fiscalização, nós ainda podemos discutir, porque queremos que seja
fiscalizado ao máximo, no entanto, prender a carteira de estudante com a
alegação de que os grêmios não podem ter o seu slogan, quando a Prefeitura
utiliza dois, é uma profunda contradição. É cassar o direito de expressão! É
não entender que a carteira estudantil está sendo feita pela Secretaria em
parceria com os grêmios e que se a Secretaria tem o seu espaço, os grêmios
também devem ter o seu. É não entender que o movimento estudantil tem
maturidade e autonomia que deve ser respeitada, porque são dois poderes
distintos: Prefeitura Municipal de Porto Alegre e organizações estudantis. É
uma interferência! Uma tentativa de cassar a palavra de quem é parceiro nesse
programa. Então, nós não aceitamos.
Eu conversei, para finalizar, com o Secretário Nazareno, mas ele não me
disse nada que pudesse assegurar que essas trezentas carteiras, que já estão
prontas, estejam hoje no grêmio estudantil para serem distribuídas para os
estudantes que têm direito a elas. É um pedido para que se tomem providências e
a Bancada do Governo, tenho certeza, vai fazer isso, imediatamente pelo direito
dos grêmios. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Antonio Hohlfeldt
está com a palavra em tempo de Liderança do PSDB.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, em relação ao Projeto que acabamos de votar ainda há pouco,
gostaria de dizer, se ainda houver algum companheiro do Movimento Comunitário
que pediu o meu nome, que tenho cartões de visita à disposição que podem,
evidentemente, serem entregues, para o meu nome sair corretamente grafado, já
que é um nome difícil de sair devidamente escrito nos boletins comunitários.
Vou manter essa posição com muita tranqüilidade, por tanto, só gostaria
que a menção fosse correta ao meu voto e ao meu nome.
Srs. Vereadores, estou fazendo esta intervenção e gostaria que o Ver.
João Verle, Líder do PT, e Ver. Henrique Fontana, pudessem me acompanhar, no
sentido de que tenho uma preocupação. Na sexta-feira passada, dois fiscais da
SMOV, compareceram às 17h no Centro Comunitário do Jardim Coima, na Zona Norte
de Porto Alegre, porque haviam recebido uma denúncia anônima sobre uma obra que
a Associação Comunitária do Jardim Coima está realizando no antigo prédio de
madeira. Essa obra visa a adaptar o espaço para um posto de saúde, extensão do
Hospital Nossa Senhora da Conceição, e o Ver. Fontana certamente conhece a
política do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Este posto, o Jardim Coima,
luta, pelo menos, há dez anos, eu acho, e a Ver.ª Letícia Aruda deve ter essa
informação, porque é lá da região, e nós, no ano passado, conseguimos
incrementar esse trabalho, tivemos várias reuniões com a direção do Conceição,
enfim, conseguimos ganhar o posto. O posto estava sendo construído até
sexta-feira, sexta-feira houve a interdição. No sábado de manhã, com uma
eficiência fantástica, a SMOV foi lá e, realmente, embargou completamente a
obra. De sábado até hoje, estamos tentando uma negociação com a SMOV sem que o
Secretário Estilac Xavier arrede um milímetro o pé de sua posição absolutamente
burocrática. Ele só libera se os papéis estiverem em dia. É legal? Sem dúvida
nenhuma é legal. Agora, será que é justo no momento em que nós temos um caos na
área da saúde e, sobretudo, na saúde popular, com tanta obra clandestina nesta
Cidade? Eu citaria só de passagem tudo que se constrói a cada fim de semana
irregularmente, por exemplo, na Vila IAPI. Será que vale a pena a SMOV fincar
tanto pé numa obra comunitária, que é um posto de saúde, ao invés de prestar
atenção e desenvolver outros trabalhos, sobretudo quando o Hospital Conceição
está deixando bem claro que tem a documentação, e que se não entrou foi
exatamente por um lapso da direção ou do Setor de Obras do Hospital?
Não quero nenhuma irregularidade. Todos os Vereadores me conhecem bem
nesta Casa, mas acho que intransigências com certas coisas, uma perspectiva
burocrática com situações que são quase de calamidade pública, como é a questão
da saúde popular, realmente não ajudam a imagem de uma administração pública.
Desde segunda-feira nós temos mantido contato com o Gabinete do Prefeito, com o
Chefe do Gabinete, que tem tentado resolver a situação. Mas a intransigência da
SMOV é muito curiosa. Tão mais curiosa, porque, tradicionalmente, o
comportamento que eu conheço da SMOV é: notificação, prazo de defesa, auto de
infração, prazo de defesa e, depois, então, embargo. Curiosamente a SMOV foi de
uma eficiência fantástica. Das 17 ou 18h da sexta-feira passada para às 10h da
manhã, embargo realizado. E a obra está parada e a população esperando para
ganhar o posto de saúde.
Então quando nós temos uma crise na saúde, em nível federal, quando se
decreta calamidade pública, e o Hospital Conceição, bem ou mal, arranja um
dinheirinho para fazer a obra e a comunidade aceita fazer mutirão, deixando seu
horário de lazer para fazer a obra, burocraticamente a SMOV vai lá e embarga a
obra. Realmente é complicado. Eu me lembrei, Ver. Dib, do exemplo que V. Ex.ª
colocava, no sentido contrário, e lastimo, porque, realmente, aquela comunidade
ali tem sido uma comunidade que tem procurado trabalhar com municipalidade, uma
comunidade que era, antigamente, constituída de condomínios fechados,
populares, uma comunidade que abriu mão do controle sobre áreas e praças,
pequenas vielas, tudo entregando e repassando à Prefeitura, para poder fazer um
trabalho conjunto, uma comunidade que tem buscado participar das discussões do
Orçamento Participativo, uma comunidade que, evidentemente, está frustrada com
uma intransigência, com um burocratismo da SMOV. E não adianta o Secretário
Estilac Xavier dizer: “Não, mas é legal, eu tenho que fazer o legal e não vou
passar por cima do meu fiscal.” Tudo bem, ninguém quer isto, mas me parece que
uma discussão política, de sensibilidade, em relação à situação concreta, que é
saúde pública, não é passar por cima de um fiscal. Eu tenho certeza de que o
fiscal vai entender. Ele fez a sua parte, nós vamos legalizar, mas, nem por
isso, precisaria haver o embargo. A minha crítica é o embargo em cima de uma
obra voltada para a saúde pública. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jocelin Azambuja está
com a palavra em Comunicação de Líder.
O SR. JOCELIN AZAMBUJA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, não sei se o Ver. João Bosco Vaz se encontra presente, eu não gosto
de me manifestar quando os colegas não estão presentes. Mas, de qualquer
maneira, eu tenho que dizer que o Ver. João Bosco Vaz não foi feliz na sua
manifestação, usou da mesma estratégia que usou naquela oportunidade, quando a
comunidade do Menino Deus explicou ao Governo do Estado que não era contra a
construção do CIEP Esportivo. Era, contra, sim, de colocar um CIEP Esportivo
dentro de um centro esportivo, o que é um verdadeiro absurdo. É jogar o
dinheiro público fora. É que a Dona Neuza Canabarro e o Sr. Governador do
Estado tinham que botar uma obra monumental dentro de um bairro de classe
média. Então, fez isso. A comunidade do Menino Deus é servida pelo CET - Centro
de Treinamento Esportivo, um dos maiores da América Latina, que está
desaparelhado, que tem todas as faltas de condições de ali serem ministradas,
realmente, as aulas das mais diversas modalidades esportivas. O que aconteceu
foi uma teimosia governamental.
Na época, na Associação Comunitária do Bairro Menino Deus, e eu sou
Advogado da Associação há muitos anos, o Ver. João Bosco - também não foi feliz
na sua manifestação - acusou de nós estarmos usando aquilo politicamente. Não
era verdade, o Ver. João Bosco é que estava usando na sua coluna, no jornal.
Disse algumas inverdades sobre a minha pessoa e eu lhe mandei uma
correspondência pedindo o direito de resposta, mas ele não teve nem bom senso e
a altivez de colocar, na sua coluna, a resposta. E esta frase que ele diz que
acabou a campanha política não é verdadeira, eu jamais disse isso para ele e
jamais conversei com ele a respeito e ele não me deu direito de resposta.
Agora, sou contra o CIEP esportivo lá no Bairro Menino Deus e os moradores do
Menino Deus também são contra, porque, lá, há um exagero de centros esportivos.
Além das praças que nós temos no Bairro, nós temos o CET, nós temos ainda o
Parque Marinha do Brasil, nós temos a área dos Eucaliptos, nós temos dois
grandes clubes de futebol, o Grêmio Porto-Alegrense, o Esporte Clube
Internacional, temos o Grêmio Náutico Gaúcho; temos ainda o Clube do Comércio,
quer dizer, seria uma irresponsabilidade nossa, como moradores do Menino Deus,
querer tudo para o Menino Deus.
Nós propusemos ao Governo do Estado, sim, de fazer um CIEP esportivo na
Bento Gonçalves, naquela área onde tem o Hospital São Pedro, e beneficiar a
comunidade do famoso onde estão concentrados os traficantes de droga, os
marginais, onde estão aquelas crianças soltas, lá, e que estes, sim,
precisariam de um Centro de Treinamento Esportivo para ficarem o dia inteiro,
para não estarem nas ruas envolvidos com drogas. O Menino Deus não tem estes
problemas. Que precisa colocar sede esportivas, precisa, mas nas áreas em que
realmente são necessárias. Então, o que o Governo do Estado fez foi uma obra
para se justificar perante um bairro de classe média, dizendo: eu vou dar ali
um CIEP Esportivo. E fez o mais grave, Srs. Vereadores, a Secretária da
Educação, como não tinha público para o CIEP Esportivo trancou as vagas das outras
escolas, diminuiu as turmas no Roousevelt, e em todas as outras escolas; botou
Calendário Rotativo no Duque que era para poder ter gente no CIEP Esportivo,
senão não ia ter gente para inaugurar. E o princípio do Centro Esportivo, e o
Ver. João Bosco deveria saber disto, é receber crianças de toda a Porto Alegre.
E uma das coisas que apresentamos naquela época de obstáculo à realização disto
é que não adianta dizer que a criança pobre vai estudar no CIEP do Menino Deus.
Eu fui corredor do Grêmio Futebol Porto-Alegrense, treinei algum tempo
enquanto durou minha passagem escolar, depois meu pai não tinha mais dinheiro
para pagar minha passagem e acabou a minha vida de atleta. Eu era pobre! Nasci
pobre! Esta é a realidade da maior parte da população de Porto Alegre. Não
adianta construir CIEP e dizer que vai receber criança de toda Porto Alegre
porque eles não têm dinheiro para ir lá treinar. É uma coisa tão lamentável,
tão absurda esta postura. E saibam o seguinte: a Associação Comunitária dos
Amigos e Moradores do Bairro Menino Deus é uma Entidade totalmente independente
desta questão, na sua diretoria tinham três candidatos a cargos eletivos à
eleição de Vereadores de partidos diferentes. Lá não tem barreiras partidárias,
não se admite que nenhum partido político queria tomar conta da Associação
Comunitária, isto nós permitimos. É uma consciência que existe no Bairro.
Agora, a participação de todos, independente da cor partidária, está aberta
para todos.
Agora, o Ver. João Bosco tem que ter mais seriedade e responsabilidade
nas afirmações que faz aqui, sob pena, depois, de perder até o respeito
próprio. Não se pode chegar aqui e sair acusando sem ter feito o mínimo que
deveria se exigir de respeito que era o direito de resposta que não foi dado na
sua coluna, no Jornal. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Está encerrada a Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 12h22min.)
* * * * *